FOTO BY JOÃO SALAMONDE |
Original de 1987, de
Eric Bogosian, Talk Radio já passou pela
Broadway no ano de sua autoria e duas décadas após. Além de sua transposição
cinematográfica por Oliver Stone em 1988.
Precedido por um filme de temática similar ( Bom Dia Vietnam, de Barry Levinson), na abordagem do universo dos locutores radiofônicos ,Talk
Radio foi além em seu incisivo teor crítico sobre as falácias da realidade norte-americana.
Enquanto o primeiro satirizou as razões de uma guerra de insustentável
orgulho nacionalista sob a era Nixon, o segundo apontou seus projéteis sobre os
podres morais , sociais e religiosos de uma nação mergulhada
na hipocrisia dos anos Reagan.
O locutor Barry Champlain( Leonardo Franco) , em seu programa
Conversa da Noite , nos diálogos ao vivo com os ouvintes, responde com
irônico tônus vocal às perguntas sobre racismo, homossexualismo, religião,
drogas. Polemizando mais estes
questionamentos em corrosivas respostas e sarcásticas soluções.
Alternando-se entre os personagens do estúdio e os das audições do público, um coeso elenco(Alexandre
Varella, Marcelo Aquino,Mariana Consoli, Raul Franco , Stella Maria Rodriygues) conduz a um clima de inquietação nos
bastidores e nas nervosas captações de vozes telefônicas, aqui audíveis e visíveis.
E onde apenas Bernardo Mendes( Kent) e Leonardo Franco( Barry Champlain) não
assumem esta dúplice performance.
A firme direção de Maria Maya equilibra, com segurança e
inventividade, estes dois planos narrativos opostos. Enfrentando, na precisão
do código de cena adotado, um perigoso jogo , com seu permanente risco
de marcações repetitivas.
Figurinos (Luana de Sá) , aparato cenográfico( José Dias) ,luzes
sombrias( Adriana Ortiz), servem aos propósitos da montagem , de priorização do texto no seu confronto entre a fala
coloquial e a agressividade verbal .
Leonardo Franco aprofunda sua atuação na deliberada busca de
uma linguagem corporal e emotiva de humor negro, capaz de provocar sentimentos
de mágoa e sagazes subentendidos, tanto nos ouvintes como nos parceiros de
estúdio. Faltando apenas uma modulação mais enfática no decisivo monólogo final.
Enquanto suas locuções
radiofônicas tiram mais sangue das feridas ,dizendo o que
pensa sobre as pessoas sem se preocupar com o que podem pensar sobre ele.
Se elas forem capazes,
também, de ter efeitos de questionamento
reflexivo em cada espectador, vivenciando
a acomodação perversa do atual discurso político/ ideológico , o recado de Talk Radio foi muito bem dado pelo alvo fácil das palavras de Eric
Bogosian:
“Esse país vai mal das pernas. Este país está podre até a
medula. E é melhor alguém fazer algo a respeito”.
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