O retrato, tão bem traçado, das futilidades e pequeneza de
atitudes em personagens típicos de classe média provinciana é tematizado, com inteligente
ironia, nestas peças dos anos iniciais do teatro tchekoviano –O Urso e O Pedido de Casamento,
originais de 1888/89.
Com seu olhar crítico , ao mesmo tempo melancólico, da
postura comportamental de seres marcados pelo ridículo e pela superficialidade
, este registro, em atos e falas, das fragilidades da condição humana ressoa além de sua época
histórica.
Fator presente tanto na narrativa(O Urso) de uma cobrança
antiga feita por Grigóri Smirnov (Marcelo Escorel) à viúva Eliena Popova(Flávia
Fafiães), como no Pedido de Casamento
do jovem ensimesmado Ivan Lomov( Rafael Canedo) à garbosa senhorita Natália
Stepanovna( Isabella Dionísio).
Acompanhadas as duas investidas amorosas pela dúplice e eficaz
entrega à personificação por Edmundo Lippi. Como um idoso e conselheiro , tanto como o pai Sptepan
Tchubúkov( O Pedido de Casamento) ou como o criado Luká( O Urso).
A trama dupla unificada alcança uma notável fluência no original
cruzamento de seu vocabulário cênico sob o título de Vaidades e Tolices. Numa perfeita idealização do comando de Sidnei
Cruz, na maestria de marcações movimentadas e coloridas. Plena de bons achados farsescos na dialetação lúdica entre
a palavra e o gesto.
Nesta focalização estética de uma verdadeira guerra de sexos
na pretensão de duas futuras uniões nupciais ocorre, isto sim, um mais que
feliz casamento da performance de atores.
O inicial conflito, de incomunicabilidade e de pretensões, entre
os argumentos de convencimento do agitado personagem de Marcelo Escorel
abala não só a intransigência, de tom exato com Flavia Fafiães, como seduz de
vez a plateia.
Enquanto Isabella Dionísio se impõe com uma reveladora
consistência, o sequencial domínio cômico/emotivo e da fisicalidade em Rafael
Canedo reafirma sua crescente desenvoltura presencial na nova geração de atores.
Completando a
comemoração de 25 anos da Cia Limite 51, sempre com brio e brilho em seu
repertório de clássicos, outra vez o apurado senso plástico e técnico de seus elementos cenográficos(Colmar Diniz),
desenho de luz(Rogério Wiltgen) e score musical (Wagner Campos).
E é, assim, a partir desta clássica comédia humana do desencontro e da
mediocridade cotidiana, a constatação reflexiva, capaz de conduzir a Máximo Górki :
“Ninguém compreendeu tão lúcida e finamente como Anton
Tchekhov a tragédia das trivialidades da
vida; ninguém antes dele mostrou aos homens, com tão impiedosa verdade, o
retrato terrível e vergonhoso de suas vidas...”
VAIDADES E TOLICES ESTÁ EM CARTAZ NO TEATRO EVA HERZ, CINELÂNDIA/RJ, DE TERÇA A SÁBADO,ÀS 19H30M. 80 MINUTOS. ATÉ 06 DE AGOSTO.
VAIDADES E TOLICES ESTÁ EM CARTAZ NO TEATRO EVA HERZ, CINELÂNDIA/RJ, DE TERÇA A SÁBADO,ÀS 19H30M. 80 MINUTOS. ATÉ 06 DE AGOSTO.