FOTOS/LEO AVERSA |
“Polifonia - termo derivado do grego, significando “vozes múltiplas”, usado para a música em que duas ou mais linhas melódicas soam simultaneamente”. (Dicionário Grove de Música).
Reflexões perceptíveis após conferir o investigativo jogo teatral contextualizado pelo autor e diretor Luiz Felipe Reis em Galáxias I : Todo Esse Céu É Um Deserto de Corações Pulverizados, outra realização de sua Polifônica Cia.
Desta vez com a participação performática de Leo Wainer, Ciro
Sales e Julia Lund, os dois últimos em dúplice ofício atuando tanto em cena
como no ideário dramatúrgico. Incluindo-se aí o apoio colaborativo de Fernanda Bond,
extensivo à codireção.
Numa pulsão de work in
progress a peça tem seu substrato autoral e inspirativo em textos do
escritor argentino J. P. Zooey. Que
acaba, simbioticamente, titulando os personagens da peça – dos irmãos JP (Ciro Sales) e Zooey (Julia Lund) ao referente alter
ego deste no professor/pensador (Leo Wainer).
Em espetáculo integralizado numa textura dramática de plena convergência
interativa com os seus outros elementos composicionais. Arquitetando uma cenografia (Júlio Parente/Luz Felipe
Reis) polifônica de fisicalidade, dialetação e solilóquios. Entre textualidades
vocais, projeções documentárias e gráficas, além da recorrência ao formato web de transmissões.
Do ambiental desenho de luz e projeções (assumidos por Corja e Leandro Barreto), à envolvência da composição e direção musical de Pedro Sodré, dividindo a parte instrumental, ao
vivo e as gravadas, com Rogério da Costa e Rudah. Mais a indumentária (Luiza
Mitidieri) cotidiana, radicalizada na fantasia leonina da personagem feminina ao
voltar de um teste publicitário.
A reiterativa indagação filosófica sobre a origem, sentido e
final da vida humana se estende à crise civilizatória que leva o planeta Terra
à iminência de sua apocalíptica terminalidade. Polemizada na inversão teórica
da cientifica descendência dos macacos redirecionada aos pássaros, os únicos detentores
de mensagem do Sistema Solar sobre o caos derradeiro.
Enquanto o professor (Leo Wainer) em postura conferencial faz
admoestações, entre nuances de pânico e de delírio poético, sabendo preencher, com
angustiosa tensão e sobriedade, o dimensionamento de seu papel.
Paralelo às indagativas reflexões existencialistas do casal de irmãos/artistas sobre o pós legado de escritos literocientíficos do professor suicida, com absoluta adequação física, gestual quase coreográfico e contraponto emotivo dos atores Julia Lund e Ciro Sales.
Paralelo às indagativas reflexões existencialistas do casal de irmãos/artistas sobre o pós legado de escritos literocientíficos do professor suicida, com absoluta adequação física, gestual quase coreográfico e contraponto emotivo dos atores Julia Lund e Ciro Sales.
Conduzindo, com autoridade cênica, a progressão dramática de
uma narrativa sintonizada com a contemporaneidade da experimentação teatral Luiz
Felipe Reis alcança um surpreendente resultado em sua proposta de natureza polifônica.
Desde significante fundamentação teórica capaz de remeter à
uma simbólica exposição, na lateral do palco, do afiche de A Classe Morta, concebido
orginalmente para a cia Cricot 2 de
Tadeusz Kantor na sua “tentativa de criar
uma esfera de comportamento artístico livre e gratuito”.
Que esta Galáxias I, com
sua inventiva cosmogonia cênica – “a vida
é um rasgo de luz que a gente surfa na escuridão do cosmos”, seja, enfim, capaz
de trazer também ao espectador um instante estético provocativo e demolidor da
insistente acomodação ao convencional.
Wagner Corrêa de Araújo
GALÁXIAS I está em cartaz no Sesc Copacabana/RJ, de quinta a
domingo, às 20h. 100 minutos. Até 2 de dezembro.