DON PASQUALE: NOVOS TEMPOS NA ÓPERA CARIOCA

Quase ao findar do ano, a inédita temporada de óperas do Theatro Municipal começa com uma inusitada surpresa na exponencial montagem de Don Pasquale, de G. Donizetti, sob a direção  de André Heller Lopes.

Em época de parcos recursos , nada mais acertado que o uso da criatividade. Enfim, adota-se um critério que deveria ser quase regra , a troca de produções com outros teatros, ao lado do investimento em novas criações.

Assim, se tornou possível  a perspectiva de quatro óperas em menos de três meses, um fato de já longa  raridade na produção lírica do TM. E ,ainda, com uma proposta inovadora de repertório que reune dois exemplares da melhor tradição( Donizetti e Mozart), ao lado de óperas brasileiras( Menina das Nuvens e Menino Maluquinho).

Com outro grande lance de dados, a valorização do artista lírico nacional, no lugar de se gastarem fortunas com intérpretes de fora , em boa parte não tanto representativos da mais refinada cena internacional. Méritos devidos a um promissor comando do recém empossado presidente do Municipal, João Guilherme Ripper, também um exímio compositor de óperas brasileiras.

Preciosidade absoluta do gênero ópera "buffa", Don Pasquale prima por uma outra característica que a torna muito singular, seu referencial com a  "commedia dell'arte" que inspira a origem narrativa de  seu libreto.
As artimanhas do Dr. Malatesta( Homero Velho) contra um velho solteirão maníaco, Don Pasquale( Sando Christopher), fazem com que este desista de suas pretensões amorosas por Norina( Ludmila Bauerfdeldt), levando-a às núpcias com o apaixonado Ernesto( Luciano Botelho).

Obra da maturidade de Donizetti, revela em sua partitura uma virtuosidade e um frescor melódicos que a tornaram exemplar pelo domínio da verve cômica sendo, ao lado do Barbeiro de Sevilha(Rossini), ápices  do gênero  bufo no século XIX. E que a condução sinfônica do maestro Silvio Viegas foi capaz de manter com equilibrado alcance entre as frases bem humoradas e as nuances melancólicas , presentes desde a introdução, com o solo de violoncelo na  abertura,  às lamentosas árias de amor .

Também o Coro teve seu sensível  brilho nas entradas do terceiro ato , alternando sua presença , entre o palco e a plateia, na envolvência da interativa cena com o público . Quanto ao quarteto protagonista, percebe-se logo a força da performance de um experiente ator/cantor ( Sandro Christopher),  dignos desempenhos  , tanto do tenor(Luciano Botelho) diante do desafio de árias de sutis modulações líricas ( Sogno Suave e Casto) , como nos duetos e quartetos de exigente ligeireza que marcam a atuação do barítono( Homero Velho).

Mas , sem dúvida alguma, a grande presença foi  da soprano Ludmila Bauerfeldt, com a  exuberância vocal e o porte de "prima donna", desde sua primeira "romanza"  ( Quel Guardo il Cavaliere) ao celebrado dueto do  Ato III ( Torna a dir que che  m'ami).

A requintada e funcional  arquitetura cênica (Daniela Taiana) com os belos figurinos sob design dos personagens básicos da "commedia dell'arte"( Sofia Di Nunzio), foi ressaltada pelo adequado sotaque de luzes ambientalistas  ( Gonzalo Córdova / Fábio Retti).

Tudo isto, enfim,dando a merecida visibilidade a um dos melhores trabalhos de um "régisseur" brasileiro( André Heller)  capaz, com sua concepção estética , de despertar a esquecida emoção de um público, carente  da autenticidade de estilo e da verdade documental da Grande Ópera.

 


LUDWIG/2 : UM ENIGMA NA MORTE E NA VIDA

Ludwig II, o rei da Baviera,  que ascendeu ao trono aos dezoito anos e foi desposto após  uma conspiração política, sob o  pretexto de  alienação mental, teve uma controvertida trajetória existencial e tanto sua morte, como sua vida(1845/1886), continuam  um enigma até hoje.

Apaixonado pela literatura e pelas artes , teve entre seus ídolos Schiller e Richard Wagner, a quem possibilitou a construção do teatro de Bayreuth(1872), exclusivamente dedicado à representação de suas óperas.Ao mesmo tempo, esbanjou fortunas oficiais na arquitetura de castelos de contos de fadas,  que até hoje são atração turística na Alemanha.

 Para atender aos compromissos de herdeiro real manteve um relacionamento formal com a duquesa Sophie - Charlotte,  irmã de Elizabeth, a imperatriz Sissi da Áustria. Mas às vésperas das núpcias afastou-se dela , atormentado por seus relacionamentos homossexuais com jovens plebeus, como seu chefe de cavalaria  Richard Hornig, a quem beneficiou com cargos e vantagens financeiras.

Escandalizou ,assim, com suas atitudes não só os parentes nobres como as classes governantes de seu país, estes últimos inclusive por sua rejeição à política e às guerras nacionalistas,na  priorização de  seus ideais artísticos e suas proibidas  aventuras amorosas.

Influenciado pelos heróis românticos wagnerianos, escreveu poemas e textos literários e, no cotidiano, se auto denominava de Rei Cisne , construindo um barco em forma de concha , navegando pelo lago Starnberg, onde ocorreu, na dúvida entre  suicídio ou assassinato,  seu misterioso fim .

A Arteseanal Cia de Teatro, especializada em teatro infanto/juventil, faz com Ludwig/2 -Eu Desejo Permanecer um Enigma , sua primeira experiencia adulta  tragicômica, com dramaturgia de Gustavo Bicalho,  que assume a co -direção ao lado de  Henrique Gonçalves/Daniel Belquer.

Resultado de uma residência em Munique, a proposta, com seu enfoque cênico atemporal( Linda Sollacher/Karlla de Luca) tem  seu livre referencial na surpresa  dos figurinos(Henrique Gonçalves/Fernanda Sabino) e do inusitado  score  musical( Daniel Belquer/Caeso) de duas épocas .

O ator germânico convidado  Andreas Mayer ( Richard Hornig) destaca-se , por sua especial segurança, nos confrontos com o protagonista  Manoel Madeira (Ludwig), que  tem seu melhores momentos nos   solilóquios expositivos de seus conflitos  interiores de  amargura e indecisão.  A participação de Suzana Castelo ( Sophie -Charlotte) é mais recatada  mas, mesmo assim,  alcança a sintonia  necessária com os outros personagens.

A dupla linguagem( alemão/português) estabelece um diferencial na proposta, sem prejuízo da interatividade do elenco masculino e do alcance do entendimento público. Também as referencias musicais de temas originais, como os de  Tristão e Isolda, não conflitua com sua transcrição atualizadora e  com  as incidências  do pop/eletrônico.

Tendo inspirado o cinema , desde o período silencioso , com versões  de Otto Kreisler(1922),Jürgen Syberberg (1972), Luchino Visconti( 1973) e  Peter Sehr / Marie Nöelle ( 2012),esta presente transposição dramatúrgica do tema biográfico tem uma inventiva estética no mix cronológico de períodos  e de  posturas  sociais  ( como a moderna cena gay ) .

 E é esta simbiose  que singulariza  a sua  envolvência com o nosso tempo, transcendendo ,de  um epitáfio real,  as verdades  individualistas   e as  vaidades enigmáticas de um homem histórico enquanto personagem contemporâneo.

WAR: O QUE O DESTINO LEVA E TRAZ



Renata Mizrahi está de volta com mais uma incursão dramatúrgica sobre o complexo universo das relações humanas. Outra vez reunem-se, amigos  ou amantes,  a partir de um determinado fluxo ou de chegada , no prólogo, ou  de partida,  no epílogo.

Assim foi na bem urdida trama de Os Sapos no  companherísmo  do  encontro numa casa praiana, como nos parentes   juntando-se  para uma comemoração judaica em Silêncio ou o acaso que aproxima, num bar,  um artista cego e um carente pai de família,  em Galápagos.  E, agora em War, dois casais em visita a outro casal, para o compartilhamento  passageiro de seus destinos.

Em todas estas instâncias há um combinado,  coincidente ou proposital vir/partir  ,  de uma inicial calma  emotiva  à  transmutação em detonadora e inesperada   reação,     no transcurso frontal corpo a corpo.

E é, aí, evidente a  crescente maturidade textual da autora, no seu  singular trajeto teatral. Sem deixar , em nenhum momento, se deixar apenas levar pelo sequencial encadeamento trivial, pois sua linguagem tem uma natural autenticidade , ora entre o tom confessional, na exteriorização do pensar interior, ora na expositiva gestualização do mais óbvio cotidiano.

Usando como pretexto uma partida , entre casais,  do conhecido jogo War,   André ( Ricardo Gonçalves) e Marília (Natasha Corbelino) promovem um "open house" de seu apartamento , recebendo Gustavo( Fabrício Polido) e Roberta( Verônica Reis), além de Sérgio (Camilo Pellegrini) e  Laura ( Clara Santhana) .

Enquanto aguarda os convidados, o casal anfitrião lamenta o que se tornou para eles uma frustração, a troca da agitada  zona sul carioca pelo  isolamento  de um distanciada morada. O tom maior de amargura se evidencia nas queixas de André  ao ver seu sonho criador, como roteirista cinematográfico ,ser anulado diante do tédio . Capaz de refletir-se, ainda,  na incapacidade  de um sólido embate amoroso com Marília.

Por outro lado, Gustavo e Roberta  mantem as falsas aparências de um casal na inconstância de quem apenas mora junto ,sem quaisquer  derivações afetivas. Completando-se o grupo com a inusitada novidade  de Sérgio , convicto solteiro,amarrado ,de vez, à recém  namorada Laura.

E , assim,  o jogo de invasão e conquista militarista  propugnado pelo tabuleiro de War, se transmuta numa disputa de poder egocêntrica,  capaz de gerar uma torrente de paixões ácidas , conectando-se apenas numa tessitura de orgulho e fracasso, ironia e mágoa, entre verdades e mentiras.

O alcance climático, humorado mas de pesada carga,   é acentuado pela pontual exacerbação do comando de Diego Molina, onde é visível o   desmoronamento físico  da arquitetura cênica ,em dúplice concepção  com Lorena Lima. Mesmo com o uso de elementos referenciais dos anos 80 ( LPs , uma trilha roqueira de ecos nostálgicos (Renata Mizhari), a ausência de celulares),há um claro traçado de atemporalidade nos figurinos ( Patricia Muniz), sob as luzes vazadas  de Anderson  Ratto.

A sincronicidade do elenco , embora  favorecendo mais um ou outro personagem como os desafetos de irônica mordacidade de Verônica Reis  ou a impulsividade gestual de Clara Santhana , completa um quadro , referenciado pelo  popular jogo, de desequilibrado front de guerra, na qual  todos atuam   numa milícia coletiva,mas   onde cada um só é solidário  enquanto o próximo lhe  for útil .

Retificado com um vitorioso lance inventivo de dados que ,enfim,  reafirma a potencialidade desta já icônica representante da nova dramaturgia brasileira.






AMARGO FRUTO: LADY SINGS THE BLUES

FOTOS/CLÁUDIA RIBEIRO
Infância conturbada, traumas familiares, estupro,prostituição, alcoolismo, drogas pesadas,preconceito racista. De outro lado, um talento único, intérprete refinada com seu timbre vocal singular,foi a primeira e única  a alcançar  o reconhecimento como a mais mítica "jazz singer" de todos os tempos.

Mas isto não foi capaz de deter sua trágica trajetória , com casamentos infelizes , prisão e dependência da cocaína , que abreviou sua vida em apenas 44 anos (1915/1959). Ficou o legado em inúmeros registros fonográficos clássicos, ainda que nas últimas vivências artísticas tenha sofrido críticas pela utilização de cordas,  como acompanhamento de uma vocalização já limitada e sem o apuro das épocas precedentes.

Sua carismática performance, de uma beleza original e elegância ímpar para os padrões,  de então , na música negra norte-americana, fizeram com que lhe fosse atribuído o título de Lady, pelo saxofonista Lester Youg. Foram muitos os hits musicais de sua breve carreira, como God Bless The Child, Solitude,My Man, Don't Explain, Mandy is Two, Speak Low  e, especialmente seu ácido grito  de revolta anti-racista, Strange Fruit.

É esta última que inspirou o título da peça , da autora e diretora Ticiana Studart , junto com Jau Sant'Angelo , Amargo Fruto - A Vida de Billie Holiday . E é a única canção  a não ser apresentada em sua versão original, mas em português, como um poema declamado por Lilian Valeska( Billie Holiday), com sua simbologia cruel -  "As árvores do Sul dão um fruto estranho/Sangue nas folhas e sangue nas raízes/Corpos negros balançam na brisa do Sul/ Um estranho fruto pendente dos choupos..."

Com uma requintada produção , caprichados figurinos (Marcelo Marques) e  um cenário simples mas funcional ( Aurora dos Campos), ressaltados sob o efeito de  luzes moduladas ( Paulo Cesar Medeiros), o espetáculo tem seu maior mérito no score musical preciosista ( Marcelo Alonso Neves) . Expresso em envolvente acompanhamento de um quarteto de jazz digno de nota -  Berval Moraes(baixo acústico),Gabriel Gabriel(saxofone)Rodrigo de Marsillac( piano) e Emile Saubole( bateria).

E que alcança na refinada interpretação vocal de Lilian Valeska  seu correspondente , em exponenciais momentos, com o brilho tanto da presença marcante  como de sua originalíssima tessitura vocal, nunca cedendo à mera imitação de Billie, mesmo que  os figurinos e a inolvidável
gardênia levem quase a senti-la  fisicamente no palco.

Mas o grande equívoco , para não fugir a uma expansiva e já gasta tendência do musical biográfico brasileiro, é o uso do cancioneiro como pretexto para contar, linearmente , a trajetória existencial , quase que à maneira documental, sem  qualquer preocupação por outra abordagem ( e poderiam ser várias no caso de Billie Holiday) . Mais uma vez,  o cerne dramatúrgico é perdido pela prevalência de um concerto cênico , ficando  evidente a superioridade de uma cantora arrebatadora duelando com  o menor fôlego de uma atriz.

Assim, a essencialidade do dimensionamento teatral fica representada , com força maior, pela sensibilidade da total entrega de Vilma Melo, na alternância de  vários personagens. O que não acontece   no caso de  Milton Filho, em menor relevância  nesta  mesma troca de papéis.

Se uma das fontes em que se baseou o texto foi a autobiografia de Billie Holiday - "Lady Sings The Blues", mas sem se ater exclusivamente ao depoimento da cantora que, muitas vezes, é fantasioso e fugidio,é perceptível  a preocupação de se confrontar o tom confessional do livro com uma extensa bibliografia sobre a cantora.

Mas se não houve, ainda,  a ousadia para superar a trivial fórmula da biografia musicalizada, o reencontro do público com um repertório tão significante através da superlativa vocalização da protagonista, certamente faz  alcançar o reflexionamento poético/filosófico sobre um gênero  ,assumido por Billie como seu, e desvendado, em tons  tragicômicos ,  nas palavras do escritor negro Ralph Ellison:

"O blues é um impulso para manter vivos na consciência dolorida da gente os detalhes penosos e os episódios de uma experiência brutal".

 Enfim, tudo a ver, com a Lady Blue.



AMARGO FRUTO -A VIDA DE BILLIE HOLIDAY EM NOVA TEMPORADA ,NO TEATRO CARLOS GOMES, CENTRO, DE QUINTA A SÁBADO, 19H30M;DOMINGO,ÀS 18h. ATÉ 25 DE SETEMBRO.





BALLET DU GRAND THÉÂTRE DE GENÈVE : ILUMINURAS COREOGRÁFICAS


A tradição coreográfica da cidade de Genebra vem dos anos em que era rota das turnês dos Ballets Russes de Diaghilev, em plenos anos 20. O que lhe imprimiu uma marca tão forte que, quatro décadas mais tarde, teve sua continuidade artística sob o comando curador de Balanchine e inúmeras remontagens de suas obras.

De Alfonso Cata  a Oscar Araiz, foram períodos de extrema fertilidade criativa que conduziram o Ballet du  Grand Théâtre de Genève ao status de uma das melhores companhias européias , numa trajetória entre a tradição e a modernidade. Tendo por ali passado, em trabalhos ocasionais, nomes como os de Rudi Van Dantzig, Kylian e Mats Ek, além da presença reveladora da mais recente
geração através do suiço Ken Ossola e do grego Andonis Foniadakis.

Na presente temporada brasileira, são estes últimos que aparecem com dois significativos títulos do repertório  da cia suiça, Lux (  Ossola) e Gloria ( Foniadakis) num espetáculo simbologicamente concebido como uma unicidade temática , através da predominância de  composições musicais de caráter sacro, entre Händel e Fauré.

Mas de conceituação coreográfica absolutamente oposta , do tradicionalismo  à experimentação de proximidade  vanguardista, sem deixar de escapar a influência de Kylian em Lux e uma certa nuance a la Béjart em Gloria, mostrando os traços da escola do mestre tcheco  em Ossola e a influência do Centro Mudra bejartiano em Foniadakis.

Embora não tenha o alcance de obra prima da outra versão do Réquiem de Fauré, no tributo póstumo de Kenneth MacMillan a John Cranko, Lux mantém o clima celebrativo de uma prece humana  de misericórdia divina  diante da morte. No Introito e no Kyrie, os bailarinos estendidos no palco em atitude submisssa , com seus figurinos sugestionando formas esqueléticas sanguíneas (Jean Marc Puyssant) , vão , aos poucos, se libertando em meio a uma luz entre sombras.

E , então , revelam um  gestual de extrema sutileza, em células   minimalistas interrompidas pela  sua brevidade ,mas enquadradas simetricamente  com a serenidade meditativa da partitura sinfônico /coral. A aura de uma dança mistificada   acaba criando uma sensual  envolvência , em grupos de bailarinos alcançando  formações escultóricas de belo efeito cênico.

Na segunda parte, com Gloria,persiste o sotaque ritualístico ressaltado pelas sonoridades barrocas de uma espécie de "medley" Händel, entre  passagens de música serial (Julien Tarride), numa perfeita sintonia entre temas instrumentais ( Concertos Grossos e Suites para Cravo) , cantata( Dixit Domini),
oratório (O  Messias) e ópera (Xerxes) e os monocórdios acordes do concretismo sonoro.

O detalhamento  das linhas coreográficas de Lux é transmutado  na largueza de movimentos de enérgico dinamismo do Gloria, ora na sintonia de impulsivo atletismo , ora na virtuosística exploração da fisicalidade dos bailarinos com um figurino de design fashion ( Tassos Sofroniou).

Enfim, qual seria a razão do simbolismo enigmático da junção num mesmo programa   de obras com musica de sacralização ritualística entre a vida e a morte,de materialidade e ascensão,  na constância de luzes  sombrias, nos figurinos em tons esmaecidos e na oposta  gestualidade?

Sem uma clara  resposta neste abstrato questionamento estético / filosófico  mas diante do "pathos" emotivo palco/plateia,  talvez a possível saída esteja com o pensador Roger Garaudy:

"Como o mito, a dança é também um indicador de transcendência".













ESTAMOS INDO EMBORA: ATENÇÃO! PERIGO!

Se até hoje não aconteceu o fim dos tempos, a morte do planeta terra e de todos os seus habitantes pelo temido  apocalipse bíblico, um outro epílogo está mais perto do que se imagina. A perdulária exaustão  da natureza ,  o aquecimento global  e a poluição atmosférica podem ser  os sinais reais da proximidade de uma  tragédia final.

Inspirado por um encontro com o filósofo e antropólogo Bruno Latour, o jornalista especializado em teatro, Luiz Felipe Reis ,  decidiu inaugurar sua trajetória como dramaturgo através da original proposta cênica de "Estamos Indo Embora...". Ao lado da atriz Julia Lund enveredou por uma seara inédita no universo dos palcos - o homem versus a natureza , numa relação mais próxima do conflito que da complacência.

A partir do encontro de outras linguagens artísticas que,por sua vez, já mais de uma vez, tinham se aventurado ,com exito, pela temática, faz, agora, do teatro o porta vez de uma tragédia anunciada. Mas mantendo o fluxo evocativo  que especialmente o cinema, as artes visuais, a dança e  a música vem desenvolvendo em torno da questão ambiental,   a direção do autor reuniu, num espetáculo quase múltipla instalação / performance , os atores Julia Lund e Márcio Machado.

A montagem é desenvolvida em três momentos, ficando ,para o derradeiro  quadro,   a abordagem mais convencionalmente dramatúrgica .Quando a concepção despida de seu tom palestrante desvenda , entre pausas e silêncios, o refletir amargo de um casal sobre as incertezas e a insegurança,  para um filho que vai nascer, numa humanidade condenada ao  caos.

O exponencial prólogo cinético com geleiras se derretendo, enquanto os atores assumem um gestual quase coreográfico, sob um   efeito cenográfico de brumas congelantes , propicia o clima estético necessário para os módulos seguintes. Nestes há uma prevalência da palavra didatizada em conluios que conduzem a plateia ora no tom expositivo com nuance de conferencia científica ,ora  na contradição opinativa sobre a problemática ambiental , numa inquisitiva interação com a platéia.

Embora haja um acerto na expressiva performance do elenco e na coerência dos efeitos sonoro/musicais(Luiz Felipe Reis/Thiago Vivas),  paralela aos  figurinos (Antônio Guedes) e a iluminação(Alessandro Boschini),a  proposta inventiva  não consegue evitar uma certa fragmentação dos diversos segmentos artísticos/ discursivos ali presentes, com prejuízo da arquitetura teatral propriamente dita.

O que, enfim, não  inviabiliza o visível refinamento investigativo desta nova revelação autoral nos palcos cariocas. Capaz ,  com sua palavra,  de despertar a consciência reflexiva sobre quanto tempo ainda nos resta para salvarmos o simbológico mundo verde ( lembrando o Drummond de "Fala Amendoeira"),  "plantado em frente à porta /companheiro mais chegado de um homem e sua vida/espécie de anjo vegetal proposto ao seu destino".




Fotografia: Leo Aversa
ESTAMOS INDO EMBORA está em cartaz no Teatro Gláucio Gil, de sexta a segunda, às 19h. Até 28 /o9.

VANYA E SONIA E MASHA E SPIKE : COM UM TEMPERO TCHEKOVIANO

COM UM TEMPERO TCHEKOVIANO

"A tragédia das trivialidades da vida", assim Górki definia a trajetória dramatúrgica de Anton Tchekhov . Carregadas de melancólica tristeza as peças deste russo , de breve passagem existencial( 1860-1904) não deixavam de refletir sobre as agruras da condição humana com um leve sotaque de irônico humor.

E foi inspirando-se nesta seara tragicômica que o premiado autor americano Christopher Durang escreveu sua peça " Vanya e Sonia e Masha e Spike" que lhe rendeu , em 2013,o Tony Award de Melhor Espetáculo da Broadway.

Com o referencial de quatro momentos capitais tchekovianos, Durang confessou , na época de lançamento do texto teatral, sua identidade com o russo sentindo-se um "Tio Vanya", tanto na proximidade da idade do personagem, como nos inesperados desenganos a que a vida o conduziu.

Aqui, na decadente atmosfera de uma casa de campo na Pensylvania, dois irmãos quase próximos da terceira idade- Vanya( Elias Andreato) e Sonia ( Patrícia Gasppar), solteiros , nada mais esperam de seu universo solitário, bisonho , mal resolvido , enfim, sem qualquer perspectiva.

Surge aqui a primeira referência ao "Tio Vanya" quando, no enfado de sua juventude desperdiçada, em meio a amargo reflexionar, esquece o chá, que toma frio,  ou quebra sua xícara. A cena se repete entre os dois irmãos até que chega a irmã Masha ( Marília Gabriela) ,aparentemente bem sucedida como atriz, em sua carreira longe daquele ambiente provinciano.

Está assim criada a citação das "Três Irmãs" que visualizam em Moscou a redenção da inércia e do "non sense" do monótono cotidiano. Na visão de Durang, com a inovadora postura da irmã atriz na sua volta "triunfante", acompanhada de Spike ( Bruno Narchi) , sem nominação russa , jovem demais para ela e mais interessado em sua ascensão como aspirante de ator que nos deleites amorosos.

Masha traz a desalentadora noticia da venda da casa e seu "Jardim de Cerejeiras", com a mensuração mercadológica preponderando sobre o valor sentimental e familiar para cada um dos irmãos. E ainda não atendendo às vidências sinistras reveladas nos afazeres da empregada Cassandra ( Teca Pereira) ,personagem mais próximo, na sua titulação, do teatro grego que do teatro a la Tchekhov .

Completando-se mais uma citação ironizada , desta vez de "A Gaivota", através da juvenil Nina( Juliana Boller) , tornada rival de Masha, na suas insinuações sensuais em torno de Spike. Defrontando todos com sua afirmação de jovialidade : "Sou uma gaivota", respondida com ácida aceitação por Sonia - "Sou um peru selvagem".

Frustração, arrependimento, inveja, sarcasmo pontuam a espontânea e exponencial performance de um elenco que tem ricas vertentes, inclusive, nos seus inúmeros solilóquios como a emotiva confissão de Elias Andreato, os significativos desabafos de Patricia Gasppar, a envolvente comicidade de Teca Pereira e a glamourosa posturalização de Marília Gabriela. Revelando certa superficialidade apenas nas estereotipadas interferências de Bruno Narchi e nas limitadas possibilidades do papel de Juliana Boller.

O clima farsesco marcado esteticamente pela inventiva direção de Jorge Takla soube equilibrar ,com dignidade, o ponteio tragicômico / tchekoviano da peça. Ressaltado com a superlativa cenografia realista (Attilio Baschera/Gregorio Kramer) , a precisão dos figurinos(Theodoro Cochrane) e a ambiental iluminação(Ney Bonfante), num espetáculo que , por sua qualificada produção. merece ser conferido.




"TRAGÉDIE": A SAGRAÇÃO DO CORPO


 


 TRAGÉDIE : A SAGRAÇÃO DO CORPO


Enquanto a dança nasceu do gestual das colheitas, o teatro surgiu da dança nos rituais  dos cultos báquicos. Nietzsche retoma  a inspiração clássica grega  priorizando a celebração coletiva em seu Nascimento da Tragédia - "não há indivíduos na cena trágica". E aí chegamos ao ponto de partida, à inicialização conceitual do coreógrafo Olivier Dubois para sua Tragédie. criada especialmente para o Ballet du Nord, com sua estruturação contemporânea de tragédia grega.

Buscando as clássicas origens gregas do teatro  nas celebrações dionisíacas do corpo e do movimento, com a finalidade de alcançar a identificação palco/plateia na catarse , Dubois realizou uma das mais emblemáticas criações da dança contemporânea, a Tragédie , de 2013, motivo de muitas polemicas mas capaz de levar, com sua provocação, ao clímax estético de emoções combustíveis.

Não é o questionamento da exposição de dezoito bailarinos ( meio a meio, homens e mulheres) inteiramente nus, sem figurinos , maquiagens, cenários. Desde o musical Hair, inúmeras experiências coreográfico/teatrais exploraram o corpo humano despojado de quaisquer artifícios, defendidas por seus mentores pela simbológica afirmação de que "os seres humanos vivem tanto dentro como fora de suas roupas".

A sagração do corpo físico em espetáculos  transforma, assim, em objetos de contemplação artística, num mesmo grau de validação ,  rostos e troncos, braços e pernas, traseiros e orgãos sexuais.
Numa proposta que une o elemento erótico ao emocional interior, numa dignificação   humana à unicidade matéria / espírito.

Nesta trajetória, Dubois retoma a historicidade da dança livre, das festas religiosas das aldeias africanas que ele encontra no clássico documentário etnografico  de Jean Rouch, passando por seus propulsores, Ted Shawn, Martha Graham, Merce Cunningham.
Sem deixar inclusive de retomar  o referencial de Nijinsky na sua Sacre du Printemps, com seu ritual de fertilidade, na própria estruturação dos grupos masculino/feminino e na liberdade gestual.

No longo movimento inicial, individualmente vão se apresentando os integrantes do Ballet du Nord, em hieráticas posturas e movimentos quase marciais,  num  mix com a forma cotidiana do caminhar a pé ou do exercitar-se em esteiras. Neste entra e sai, vai e vem, progressivamente  em grupos,  a batida monocórdia da trilha eletrônica( François Cafenne)  faz concentrar os olhares nos aspectos anatômicos dos bailarinos ( musculatura , respiração,articulações).

Na sequência seguinte, libertam-se do tensionamento, mãos, braços, pernas, ombros, quadris, entre silêncios e agitações, da suavidade à selvageria, olho no olho, frente a frente. E  acabam se tocando ,pela primeira vez, numa multiforme arquitetura escultórica, com insinuações de posicionamentos erotizados. A música "trance" conduz ,então,  ao transe  de uma  discoteca techno , sob luzes negras .

Arrastados  neste hipnótico estado de êxtase, entre o magnetismo animal e uma desesperada alegria de viver, a catarse final justifica a singularidade expressiva e a envolvência emotiva deste tributo ao corpo,  inventado por seu criador "para experimentar a humanidade, cega, deslumbrante, ensurdecedora, na sua capacidade de se levantar, gritar, resistir".


OPINIÃO DO LEITOR 





QUEIME ISSO :ANTES QUE ANOITEÇA


               
QUEIME ISSO: ANTES QUE ANOITEÇA


Uma nova onda comportamental afetou , com amargor, os anos 80 após o espanto provocado via síndrome da Aids.
E se nunca se experimentara tanta liberdade , um corte laminar se estabeleceria  simultaneamente , acrescido de um retorno avassalador do preconceito homofóbico.

Queime Isso ,original de 1987, , do  dramaturgo inventor  do off / off Broadway -  Lanford Wilson, reflete sobre as ligações afetivo/sociais de um grupo de amigos sob o impacto da morte  de um casal gay num acidente de barco, partilhando um deles -Robbie - um loft com a coreógrafa Anna ( Karine Carvalho) e o publicitário Larry ( Alcemar Vieira).

Num  espaço cenográfico elementar  (Miguel Pinto Guimarães),uma minimalista  sala de estar , aparece também o namorado de Anna, o roteirista e pretenso intelectual Burton ( Celso André), dos três o menos atingido pela recente notícia fúnebre. E que, paralelo à sua postura comedida, revela seu ironizado alheamento por trás da conduta egocêntrica , de  exacerbado pragmatismo.

Enquanto Anna e Larry, no questionamento doloroso e árido das confusas  perspectivas com o súbito findar-se do amigo, dialogam sobre os possíveis  desdobramentos emocionais e profissionais  da emergente tragicidade ( Robbie era também parceiro no universo da dança) . 

Mas o elemento propulsor da trama é a  inesperada chegada de Pale ( Tatsu Carvalho),uma espécie de Stanley Kovalsky da geração yuppie ,aqui escondendo sua anti-aceitação do irmão gay(Robbie).
No ímpeto da revolta e na rudeza de suas atitudes e a intenção de posse física, quase um estupro, de Anna, num ato agressor de afirmação de sua heterossexualidade.

A simbologia do período noturno, onde transcorrem todas as ações, se estende também à caracterização de trajetórias estigmatizadas pelos conflitos de identificação da sexualidade.
A androgenia assumida do comparsa residencial , Larry, a insatisfação afetiva de Anna diante de um namorado distanciado (Burton) e a transgressividade agressora de Pale.

Onde uma vazada  iluminação( Felipe Lourenço) marca os discretos figurinos( Alessandra Padilha), sob positivas incidências musicais não rigidamente enunciadoras de época ( Mauro Bernan).

Este universo em decomposição é retratado ,com a precisão minuciosa de um flagrante fotográfico , pelo exponencial comando cênico de Victor Garcia Peralta , ainda que não  rompa a nuance narrativa sequencial de previsibilidade novelesca.

Mesmo assim  fissurada , por incisivas performances do elenco guiadas pela definição mais favorável de personagens, como os  de Tatsu Carvalho e Alcemar Vieira, de flagrante contraste conceitual e da constância em cena de Karine Carvalho.

Na ansiada expectativa dos  clarões do próximo amanhecer, estes seres em combustão cotidiana,direcionam -se enfim, E antes que anoiteça outra vez, queimam  as lembranças e cauterizam as feridas  memoriais da solidão, dos desencontros e das iniquidades da condição humana.

                                          WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO





SANTA , TEATRO COREOGRÁFICO

SANTA , TEATRO COREOGRÁFICO

Diante de um previsível questionamento classificatório do público pelo espetáculo Santa, com dramaturgia de Diogo Liberano, face à sua multiplicidade de linguagens artísticas, algumas reflexões como possíveis saídas.

O confronto com o elemento teatral propriamente dito, na experimentação predominante do aporte coreográfico da proposta, ao lado da força visual da arquitetura cênica ( Bia Junqueira) lembrando uma instalação plástica ,não anula e ,sim, é o elemento propulsor da proposta dramatúrgica.

A trama narrativa ,conceitualmente de teor poético, se estrutura numa sequencia fragmentaria de solilóquios ,de nuance memorialista, no enfoque das lembranças afetivo/eróticas da relação de um homem( Guilherme Leme Garcia) e de uma mulher ( Angela Vieira),situada entre o passado e o presente.

E o desenvolvimento gestual/coreográfico (Luar Maria) é o fluxo condutor da exteriorização do que Martha Graham chamava em suas obras de “atormentadas sondagens psíquicas”. Assim esta “dança teatral” aparece realmente como o fator indissociável, entre o ator e o bailarino, na expositiva definição dos amantes/personagens.

A condução de Guilherme Leme Garcia encontra o equilíbrio idealizado desta linguagem corporal, às vezes, de alcance
mais imediato que a verbalização das lembranças felizes e das queixas em torno dos silêncios e das ausências.

E os atores, na soma de suas experiências e trajetórias no duplo universo coreográfico/teatral, enunciam ,na entrega emotiva ,a total envolvência num jogo de imagens e palavras, do distanciamento contemplativo aos rarificados toques físicos quando dançam juntos.

A música incidental ( Marcello H/Marcelo Vig) se apoia na precisa divisão entre sonoridades instrumentais, cancioneiro popular brasileiro (Martinália) e referencial a la Broadway. Enquanto a iluminação ( Tomás Ribas) favorece o clima ambiental no deslocamento, por correntes de ar , dos elementos cenográficos ( em material plástico) de impactante sensorialidade.

O autor Diogo Liberano, que vem se distinguindo pela singularidade personalista na busca de caminhos novos para a escrita cênica( como no recente O Narrador), com “Santa” promove a exploração dos limites e aproximações entre o teatro e a dança.

E, no desvendar nesse fascinante universo, começará certamente a "interagir" com os ideólogos desta fonte estética, ora na justificativa mimetização dança/teatro em Maurice Bejart ( “a dança é parte do teatro”) ora na simbologia filosófica do teatro coreográfico de R. Von Laban ( “o movimento é uma manifestação exterior de um sentimento interior”).

                                               WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO

BR- TRANS : DIFERENTE OU NORMAL



Seriam os transexuais, transformistas e travestis estereótipos de homens ou simulacros de mulheres? Ou por se sentirem estranhos dentro de um corpo erradamente atribuído a eles, não seriam verdadeiros rebeldes sexuais?

Em meio a tanto preconceito e repressão social, não estariam , apesar dos pesares, inteiramente livres  em sua busca de uma vida alternativa diante da que seria a normal, pelo discriminatório  pensar dos seus contemporâneos?

Na sua fluidez, como emergentes dos dois gêneros da sexualidade, sua trajetória não assumiria este acentuado diferencial do padrão comportamental quando ,pela circunstâncias de seus destinos, vivem e morrem como outra pessoa?

Através da proposta dramatúrgica de BR-TRANS somos conduzidos a estas reflexões quando o monólogo do personagem Giselle se confunde com as marcas conceituais do seu intérprete , o ator Silvero Pereira.

Aqui , com um sotaque a la Almodovar misturado a um clima decadentista dos guetos e dos labirintos da marginalidade, ele , ao mesmo tempo que deixa um grito de revolta parado no ar, presta um tributo documental aos que perderam suas vidas pelo estigma de sua própria opção afetivo/erótica.

Com um completo domínio de palco, é ele mesmo que manipula os refletores , troca seus figurinos e se maquia frente à plateia, em meio a um décor cênico( Rodrigo Shalako)  referencial deste universo transexualizado.

  No que é acompanhado , no palco, apenas pelo tecladista Rodrigo Apolinário com precisa  trilha incidental que remete ao “bas-fond” das boites gays e de redutos da prostituição.

O firme comando da diretora gaúcha Jezebel De Carli une o sul ao norte cearense de Silvero, traçando uma linha, ponta a ponta, de um Brasil de preconceito e violência. Sem deixar que a previsibilidade e o sotaque melodramático piegas , prevalente em  shows de dublagem,  vulgarizem  uma realidade atroz e polêmica.


E até o fato da dualidade do masculino/feminino da performance é delineada com extrema expressividade, na envolvência de um  mix
 de agressividade e docilidade, em equilibrado limite que conquista a receptividade do público.

E , ainda, nos traz, de volta,  a memória da inspirada   canção de Sting( “Tomorrow we”ll see”) sob o signo da tragicomédia da transexualidade:

“Eu estou andando nas ruas por dinheiro/É o negocio do amor/Vamos lá, não me deixe só, não me deixe triste/ Não me julgue/ Uma noite eu vou ter minha chance/E vamos ver amanhã...”

                                    Wagner Corrêa de Araújo

BR-TRANS está em cartaz no CCBB, Teatro III, Centro do Rio, de quarta a domingo, às 19h30m.70 minutos.
NOVA TEMPORADA - No Teatro Poeira, Botafogo, de quinta a sábado, 21h; domingo, 19hs. Até 31 de julho.

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