Seriam os transexuais, transformistas e travestis
estereótipos de homens ou simulacros de mulheres? Ou por se sentirem estranhos
dentro de um corpo erradamente atribuído a eles, não seriam verdadeiros
rebeldes sexuais?
Em meio a tanto preconceito e repressão social, não estariam , apesar dos pesares, inteiramente livres em sua busca de uma vida
alternativa diante da que seria a normal, pelo discriminatório pensar dos seus contemporâneos?
Na sua fluidez, como emergentes dos dois gêneros da
sexualidade, sua trajetória não assumiria este acentuado diferencial do padrão comportamental quando
,pela circunstâncias de seus destinos, vivem e morrem como outra pessoa?
Através da proposta dramatúrgica de BR-TRANS somos
conduzidos a estas reflexões quando o monólogo do personagem Giselle se
confunde com as marcas conceituais do seu intérprete , o ator Silvero Pereira.
Aqui , com um sotaque a la Almodovar misturado a um clima
decadentista dos guetos e dos labirintos da marginalidade, ele , ao mesmo tempo
que deixa um grito de revolta parado no ar, presta um tributo documental aos
que perderam suas vidas pelo estigma de sua própria opção afetivo/erótica.
Com um completo domínio de palco, é ele mesmo que manipula
os refletores , troca seus figurinos e se maquia frente à plateia, em meio a um
décor cênico( Rodrigo Shalako)
referencial deste universo transexualizado.
No que é acompanhado
, no palco, apenas pelo tecladista Rodrigo Apolinário com precisa trilha incidental que
remete ao “bas-fond” das boites gays e de redutos da prostituição.
O firme comando da diretora gaúcha Jezebel De Carli une o
sul ao norte cearense de Silvero, traçando uma linha, ponta a ponta, de um
Brasil de preconceito e violência. Sem deixar que a previsibilidade e o sotaque
melodramático piegas , prevalente em
shows de dublagem,
vulgarizem uma realidade atroz e
polêmica.
E até o fato da dualidade do masculino/feminino da
performance é delineada com extrema expressividade, na envolvência de um mix
de
agressividade e docilidade, em equilibrado limite que conquista a receptividade
do público.
“Eu estou andando nas ruas por dinheiro/É o negocio do
amor/Vamos lá, não me deixe só, não me deixe triste/ Não me julgue/ Uma noite
eu vou ter minha chance/E vamos ver amanhã...”
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
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