“Não se nasce mulher, vira-se mulher” , Eva ou Madona, prostituta
ou santa, fora o mito da eterna feminilidade, transubstanciado no conceitual
libertário de Simone de Beauvoir, em seu livro “O Segundo
Sexo”.
Referencial a que somos conduzidos diante da original textualidade
da estreia dramatúrgica de um promissor autor
de 22 anos - Roma, de Guilherme Prates.
Livremente inspirado
no enredo fílmico de Um Quarto em Roma ( 2010) , do espanhol Julio Medem.
Viabilizado na montagem das Cias
de Teatro Íntimo e Por Acaso.
O cineasta com um retrato , de exacerbada sensualidade, sobre o
relacionamento homossexual de duas mulheres, num quarto de hotel da capital italiana. A visão teatralizada alcançando um dimensionamento mais singularizado, fora de
uma prevalência normalmente dada aos
casos masculinos.
Ana ou Helena, como
fuga à identificação social , é o personagem de Linn Jardim, a que domina
o discurso sedutor. Para espanto da iniciante Isabella ( Juliana Lohmann), na indução a uma longa jornada de sexo noite a dentro. De
prazeres e revelações ,entre confortos e
pesadelos.
Na segura intimidade hoteleira, transmutada num encontro fortuito
na passagem de um réveillon romano. Não
importando que a descoberta noturna, na sua temporalidade, será apenas lembrança na manhã do dia seguinte.
Os diálogos, quase sempre diretos e secos, acentuam na suas
nuances de coloquialidade, a linha natural da representação. Alcançada , com adesão física e verdade interior, pela consistente performance das atrizes.
A concepção cênica(Gigi Barreto) transforma um espaço de galeria de arte numa onírica ambientação clean, de
envolvente eroticidade, sob um enérgico score musical (Pedro Gracindo).
Potencializada por
requintadas luminosidades ( Rafael Sieg) na neutra prevalência do branco, mas delineando a
tonalidade elegante dos figurinos(Thiago Mendonça).
A vigorosa condução dramatúrgica assumida por Renato Farias tem um coerente equilíbrio estético. Entre um irônico sotaque de malícia e um olhar amoroso, de subjetividade poética, ao desenhar os contornos de cada personagem .
Capaz, enfim, na interatividade da performance, entre realidade
e representação, observadores e observados, atores e espectadores, de fazer todos cúmplices desta irradiante aventura italiana.
ROMA está em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto, de sexta a domingo, 20h,30m. 70 minutos . Até 31 de Janeiro.
ROMA está em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto, de sexta a domingo, 20h,30m. 70 minutos . Até 31 de Janeiro.