BRIMAS: MEMORIAL AFETIVO DE UMA VIAGEM SEM VOLTA

BRI        
FOTOS BY GUGA MELGAR

“Todas as ilusões perdidas, só lhe restara mesmo aquele gesto. Suspenso já o passadiço, e tendo soado o último apito, o vapor levantaria âncora...” Na simbologia filosófica desta passagem literária , o escritor polaco/brasileiro Samuel Rawet inicia seus Contos do Imigrante.

Diante do desconhecido e da perspectiva entre sombras, muitos foram os obrigados a participar desta viagem, de promessas e espantos,  na busca de uma nova pátria.

Com enganos e medos, sonhos e dúvidas, aceitando , no silêncio de  um grito abafado, o recomeço de tudo – casa, amigos, linguagens, costumes.

Num incisivo desafio por um novo lugar. Amargo, dolorido,  na sua luta direcionada ao final  render-se. Como   na voz exilada de  Clarice Lispector : “É tão difícil mudar. Às vezes escorre sangue”.

E foi assim,a partir de lembranças de imigrantes,  com apurado teor de sensibilidade, que se escreveu o inventário existencial das autoras/atrizes Beth Zalcman(Ester) e Simone Kalil (Marion), na poética trama dramatúrgica de Brimas. Num jogo teatral vivo e fluente,  amarrado pela competência do comando cênico de Luiz Antônio Rocha.

Onde nostálgicas e  realistas recordações pessoais das intérpretes se confundem , no tempo da memória, com as de suas avós Ester, a judia egípcia, e Marion, a cristã maronita do Líbano, na opção definitiva  de ambas pelo  Brasil.

Histórias familiares de tradição  e religiosidade, transmutadas de sua ancestralidade numa sintonia coloquial  com nosso tempo. E expandidas numa sutil demonstração de afetividade, já em sua  cena inicial, na simpática  amenidade interativa de quibes servidos ao público.

A cenografia( Toninho Lobo) com malas de todos os tipos e formatos ,espalhadas pelo espaço teatralizado, além dos adereços de significado árabe/judaico, completa com a peculiaridade nativa dos figurinos(Claudia Goldbach), a ambiência climática de viagens e viajantes, partidas e chegadas.

A sinceridade no tom confessional do texto , instala surpresa e encantamento neste  desenrolar-se de devaneios, paródias, diálogos bem humorados ,monólogos interiorizados, capazes de riso  mas também de lágrimas , com  sua leve tessitura de melancolia.

Mas é o talento de uma exponencial loquacidade , no entremeio de expressões e sotaques dialetais com o falar “a brasileira”, e as nuances  da espontânea e cativante performance que estabelecem a imediata e permanente cumplicidade das atrizes com a  plateia.

Reflexionando, ainda, através do singular substrato emotivo/psicológico  de Brimas pela amizade entre os povos ,na rejeição à agressiva contemporaneidade  do fator imigratório, exorbitado pela irracionalidade  dos extremismos políticos e dos fundamentalismos religiosos. 





BRIMAS está em cartaz no Teatro Cândido Mendes, Ipanema, sexta, sábado e segunda, 21h; domingo, 20h. 70 minutos. Até segunda, 01/Fevereiro.

BRIMAS teve sua temporada prorrogada no Teatro Fashion Mall/São Conrado,sexta e sábado, às 21h30m;domingo,às 20h. 60 minutos. Até 8 de maio.

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