Desde seu surgimento, no inicio dos anos 70, o Pilobolus vem buscando uma linguagem
alternativa na sua criação coreográfica já, a partir desta época, pensada como um complexo
teatro de dança.
Tendência que tem sido constante em suas últimas obras onde, no experimento do cruzar diversificadas linguagens artísticas e
tecnológicas, faz com que estas priorizem o espetáculo puramente visual em
detrimento de uma estética de exclusividade
da dança.
Perceptível,especialmente, na sua concepção de Shadowland ,em 2009, e continuada,
agora, como Shadowland 2:A Nova Aventura. Embora conte, sempre, com um elenco de excepcionais bailarinos das
mais diversas formações, do clássico ao contemporâneo, passando pelas danças
urbanas . Sob a dúplice direção e coreografia de Renée Jaworski e Matt Kent, roteiro do escritor Steven Banks e trilha sonora autoral de David Poe.
Usando e abusando de efeitos cênicos luminares, próprios tanto
dos palcos como do cinema, entre o teatro de sombras e o cinema de animação,
seu projeto cria, enfim, um mix de ilusionismo circense/acrobático, com uma
visualidade plástica escultórica em perpetual
motion de paisagens, objetos e
corpos humanos.
Onde deixa de lado o abstracionismo temático em favor de uma
narrativa sequencial sobre a trajetória de sonho de uma menina, com direito a recortes
familiares, descobertas amorosas, conflitos psicológicos e desafios de ilusões
e medos.
Num quase referencial que pode ser tanto o da Clara do Quebra Nozes como a da Alice do Lewis Carroll, mas num conceitual
adolescente de personagens freaks ou comics de quadrinhos e séries televisivas.
Incluindo animais domésticos, monstros mitológicos e retratos
naturais , fantasiosos ou turísticos, em quadros de silhuetas/sombras, formatadas através de
movimentos de metamorfose da fisicalidade dos bailarinos sugestionando, mecanicamente, estas cinéticas figurações.
Variando entre a visível troca lateral de figurinos e de adereços cênicos e suas
entradas centralizadas por trás da
transparência de telões, com recursos de projeção ampliadores de suas imagens.
Por um lado, a performance deixa, no ar, uma certa frustração com as episódicas atuações dos bailarinos, fora dos perímetros das telas, e potencializa uma falsa expectativa do público por um
espetáculo coreográfico de uma celebrada
cia. de dança.
Mas se o olhar for menos condicionado e , sim, armado na necessária busca pela integração das diversidades do ofício
criador, Shadowland não deixa de ser uma fascinante aventura.
Ao surpreender ,enfim,
em sua múltipla pulsão artística /tecnológica,
como uma original releitura contemporânea
da ancestralidade milenar do teatro de sombras.
Wagner Corrêa de Araújo
PILOBOLUS-SHADOWLAND está em cartaz no Teatro Municipal/RJ, sexta e sábado, às 20h; domingo, às 17h. 90 minutos. Seguindo para São Paulo, no Teatro Bradesco, dias 30 e 31 de maio.