FOTOS/CARLO GUELLER/PAULO BARBUTO |
No prólogo, um ex - palhaço estreia sua nova função de
dramaturgo, advertindo o público, como o personagem da ópera de Ruggero Leoncavallo, sobre o que se assistirá
ali, pontuado entre o riso e a dor, entre o teatro e a vida.
Mas, na peça escrita por Luís Alberto de Abreu, com a mesma
titularidade da ópera – Pagliacci –
há uma elucidativa paráfrase : “A vida
não é uma ópera, como queria Machado de Assis, mas um circo, e somos todos
palhaços”
Assim este espetáculo que comemora os vinte anos da Cia. La Minima, mais uma vez, deixa
claro o conceitual estético de uma dramaturgia voltada à valorização do
circo-teatro, em sua tradicional arquitetura cênica que une o picadeiro ao
palco.
Da tragicomédia da performance circense e da bufonaria, entre
o riso e as estripulias, ao melodrama
popular das adversidades da condição humana, por palhaços/atores ou através de
mambembes trupes de saltimbancos.
Em valoroso projeto de iniciativa conjunta e continuado, com
criatividade e convicto empenho, por Fernando Sampaio, após a partida fatal em
2016, de Domingos Montagner. Reunindo uma potencializada agremiação de
atores/palhaços e acurada equipe técnico/artística, sob o artesanal comando diretor de Chico Pelúcio.
Inspirando-se, apenas como motor de arranque, na conduta
narrativa do libreto original de Leoncavallo, para uma temática provocativa do riso burlesco no entremeio das dores de
corações partidos.
Mas, seguindo o olhar autoral de Luís Alberto Abreu, com uma prevalência maior no lúdico/risível de um teatro dentro do teatro com referencial circense, sem insistir no clima de folhetinesco dramalhão como a ópera. Embora mantenha-se a nominação de seus personagens, com ligeiras alterações em seus ofícios.
Mas, seguindo o olhar autoral de Luís Alberto Abreu, com uma prevalência maior no lúdico/risível de um teatro dentro do teatro com referencial circense, sem insistir no clima de folhetinesco dramalhão como a ópera. Embora mantenha-se a nominação de seus personagens, com ligeiras alterações em seus ofícios.
Como o velho palhaço e o novo dramaturgo/narrador Peppe(Fernando Paz), o gerente da trupe Canio(Alexandre Roit) e sua mulher Nedda que se faz de Colombina(Carla Martelli), Sílvio (Fernando Sampaio), dublê de Arlequim/Pierrô, além do parceiro de
ofício e do assédio de paixão, Tonio(Filipe
Bregantim). Incluindo-se,ainda, um papel inédito no entrecho operístico – o da
mulher neanderthal, Strompa(Carla
Candiotto).
Neste afinado elenco, a perceptível adequação à fisicalidade
como às modulações psicológicas de suas personificações entre a comédia de
costumes e a pantomima circense , com variantes de riso e lágrimas. Com um
destaque mais que especial na exploração das gags, de arrojada força sensorial/humorística, e do protótipo
estético/emotivo do palhaço/ator através de Fernando Sampaio.
Ao qual se acrescenta uma nostálgica e bela homenagem cenográfica(Marcio Medina),simultaneamente, ao teatro, à ópera e ao circo, através de telões frontais, figurinos fantasiosos(Inês Sacay) e luzes de ribalta ( Wagner Freire).
Sem deixar de priorizar um score sonoro(Marcelo Pellegrini), para gravações ou execuções ao vivo, com habituais ou inusitados instrumentos. Refletido em singularizadas
transcrições de árias e intermezzos líricos de Leoncavallo a Verdi, passando por Bizet, dando espaço até à música de balé(Delibes).
Com mágica apoteose na retomada de Vesti la Giubba,Ridi Pagliaccio, por Fernando Sampaio, num minimalista acordeão, em sensibilizada cena coreográfica/amorosa com Carla Martelli.
Com mágica apoteose na retomada de Vesti la Giubba,Ridi Pagliaccio, por Fernando Sampaio, num minimalista acordeão, em sensibilizada cena coreográfica/amorosa com Carla Martelli.
Pelo múltiplo talento destes
malabares, histriões, atores e clowns de um memorável inventário que
refina a arte da palhaçaria e numa pulsão/tributo a um prestidigitador mor, Domingos
Montagner, com o merecido alcance crítico e a entusiasta cumplicidade do público.
Wagner Corrêa de Araújo
PAGLIACCI está em cartaz no Teatro Sesc/Ginástico,Centro/RJ, de quinta a sábado, 19h;domingo, às 18h. 90 minutos. Até 17 de dezembro