FOTOS/CAROL BEIRIZ |
Ou quando o amor não estabelece qualquer conflito geracional fazendo
prevalecer a atração afetiva e o desejo sexual entre dois corpos sem identidade
cronológica. Esta história pode acontecer todos os dias e muitos de nós dela
fomos ou somos protagonistas.
Pois é assim, também, que transcorre esta fabulação romântica, de
muita previsibilidade mas capaz até mesmo de abrir outras portas ao coração. Revelando surpresas sim, neste
começar outra vez de uma mulher mais avançada em anos no amar outro alguém com
rótulo da jovialidade.
Na pulsão de ciumenta possessividade provocada no filho, quase da mesma idade
do namorado e amante, incapaz de aceitar que se divida o conluio de amor filial
e maternal em tríplice convivência doméstica com um estranho no ninho e no
oficio da paixão.
Onde ele, Yuri, aparece como o propulsor masculino da
trama no personagem Daniel envolvido passionalmente com Andrea(Paula
Burlamaqui), entre os pesares conflituosos do ciúme filial do pupilo dela, na representação de Vitor Thiré (desdobrando-se
em outras papeis). E contando, ainda,
com a preciosa intervenção musical, ao vivo e a cores nostálgicas, de Jujuba Cantador e seu acordeão.
Mas é no clima de delírio burlesco da arquitetura cenográfica (José
Dias), com substrato circense no seu formato de picadeiro móvel sob lona, que a
amarrada e carismática gramática teatral de Jorge Farjalla potencializa os
mecanismos histriônicos e dramáticos dos personagens.
Extensivos às nuances em tessitura sépia dos figurinos (também de sua lavra) que,
sob um ambiental desenho luminar(Jacson Inácio/Vladimir Freire) e nos acordes
melancolizados da instrumental performance de Jujuba, favorecem uma estética entre o teatro popular, o circo e e a narrativa novelesca, com sutis referenciais do universo
felliniano e da commedia dell arte.
De forte presencial onírico/poético, ironizado em passagens gestuais
grandiloquentes, com um elenco sintonizado no alcance do dimensionamento psicológico
das personificações em obrigatória criação da atual temporada.
Da convicta entrega emotiva de Paula Burlamaqui aos arroubos
de exposição do desejo da mulher mais velha por um homem jovem à veemência confessional
e à irradiação gestual declarativa do amor em Yuri Ribeiro.
Sem esquecer a vibrante espontaneidade de Vitor Thiré
reafirmando sua técnica interpretativa no paralelismo de papéis e no desalento de sua personagem principal.
Ora revolto ora risível e com tal expansividade
cênica que acaba dominando o público.
Wagner Corrêa
de Araújo