Depois de uma longa jornada noite adentro, entre as angústias
da espera e da incerteza, começaram a se desvanecer as sombras que colocavam em status emergencial a única e a mais tradicional companhia de dança do país dedicada à prevalência
do repertório clássico – o Ballet do
Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Em meio a uma crise político/econômica sem fim que atingiu a criação artística
brasileira, especialmente as artes cênicas e mais incisiva ainda quanto aos
corpos estáveis do TM/RJ (Ballet, Coro e Orquestra Sinfônica), afetando uma trajetória
de qualidade e de legado histórico, pela singularizada missão estética desta Cia
oficial de dança.
Que, mesmo assim, enfrentou o desafio e resistiu em áridas
trincheiras, de progressividade crescente nos dois últimos anos. Ainda que
tivesse que abrir mão de suas artesanais retomadas estilísticas por algumas
duvidosas performances cênicas, com risco da autonomia de sua exclusiva titularidade e destinação.
Justificáveis como um brado de revolta ou de socorro mas nem sempre felizes, distanciando-se de seus fins preceituais e de suas habituais incursões na remontagem ou
releitura apurada de um repertório de
obras consagradas universalmente.
Como, agora, no seu primeiro programa da temporada 2018 – Jóias do Ballet - revisitando algumas
preciosidades do romantismo coreográfico, na passagem do século XIX, com um
excerto da Raymonda (1898), coreografia
Petipa/Gorsky, e no clima inovador dos Balés
Russos de Sergei Diaghilev com criações de Michel Fokine, como Le Spectre de La Rose (1911) ou Les Sylphides (1909).
Aqui apresentadas em adequada e digna sintonização com os
originais russos, não só através da reutilização do acervo
cenográfico e indumentário da FTM, como pela sensível e consistente direção
musical e regência de Jésus Figueiredo na OSTM e que favoreceram, sobremaneira, a
representação.
A autoridade coreográfica das diretoras artísticas do BTM (Ana
Botafogo/Cecília Kerche) fez com que os bailarinos preenchessem, com folego e
convicção, as exigências clássicas destas obras em interpretação vibrante e corajosa depois de tantas instabilidades financeiras e da partida de destacados nomes da
Cia.
Enquanto, em paralelo, valeu como mote comemorativo a volta à cena, em sua melhor
forma, da irrepreensível dupla de primeiros bailarinos Cláudia Mota e Cicero Gomes, foi surpreendente o empenho, da técnica à emoção, alcançando outros novos solistas.
Além das adequadas escolhas dos solistas em Les Sylphides, com brilho mais
recatado na unicidade das intervenções do elenco coadjuvante, mas integralizando, enfim, uma
energizada empatia do Balé do TM, em
noite de redentor retorno artístico, com cativante entrega à performance e cúmplice interatividade
palco / plateia.
O BALLET DO THEATRO MUNICIPAL esteve em cartaz em seis récitas, entre
os dias 23/Junho e 1º/Julho, em horários diversos, no TMRJ/Cinelândia.
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