FOTOS/LUIS CANCEL |
Numa trajetória estética que uniu visceralmente o conceitual
do teatro com o movimento e a dança, desde Rudolf Laban e Kurt Jooss, passando
por Mary Wigman e Pina Bausch, com classificações titulares que vão de Teatro
Coreográfico a Teatro-Dança, transcendeu-se o mero gestual cênico numa ideológica
incorporação da palavra.
Onde o ator-bailarino faz dançar
o verbo pela “manifestação exterior dos
sentimentos interiores” (Laban), numa introspecção profunda do movimento
como expressão cênica dos embates humanos com a vida e com o meio circundante.
E é nesta linhagem que se insere o singularizado trabalho como coreógrafa, bailarina, atriz, diretora teatral
marcando, há três décadas, a criação artística de Regina Miranda. E, numa vertente
de identificação de oficio e proposta estética, fazendo com que dela, também, se
aproximasse Marina Salomon.
Mais uma vez, insistindo na teorização simbiótica do teatro-dança de Laban pelo fundamental suporte de “não negligenciar
o atributo essencial do trabalho teatral que é o movimento” estão aqui, em dúplice ato inventor - Regina
Miranda e Marina Salomon - para Naitsu–Noites com Murakami. Em oportuna montagem quando profissionais do movimento e da coreografia reivindicam um justo espaço nas premiações teatrais cariocas.
Na sua pulsão contextual de multi espetáculo, no encontro de
linguagens artísticas diversas-a literatura, o teatro, a instalação plástica e o movimento
gestual/coreográfico, Naitsu
propicia uma diferencial leitura cênica na interatividade sensorial que sua
progressão dramático / psicológica exerce sobre cada espectador.
A começar de sua narrativa dramatúrgica, da lavra de Regina
Miranda, a partir da obra ficcional de Murakami, acumulando o comando diretor e
a concepção cênica, com um evocativo referencial de instalação plástico/cinética.
No enunciado de uma ambiência que induz à solidão da
performance solo (Marina Salomon), na invisibilidade de uma plateia oculta sob
a transparência nebulosa de escuros véus/cortinas, na qual cada um é convidado a interferir manipulando um pequeno artefato
de madeira.
Portando figurino (Luiza Marcier) discricionário, entre uma sutil elegância
e o despojamento cotidiano, Marina Salomon provoca uma alterativa psicofisicalidade,
ora nervosa ora sensível, na densa exteriorização dos conflitos interiores de sua
personagem.
Uma mulher insone na calada da noite em dialética viagem pelos espaços siderais da mente, entre
o imaginário e a realidade, entre a
desilusão e a angústia, reflexionando desde a vida à morte, a partir da frase
prólogo do livro Sono , do celebrado
autor contemporâneo japonês Haruki Murakami.
“Sem dormir há dezessete
noites...”. De incisiva força substantiva
para inicializar o dimensionamento dramático
e coreográfico da performance possibilitando, assim, equilibrar a sua original
textualidade com a envolvência emotiva na representação.
Em gramática cênica fluente, de convergente apelo visual, enérgica
irradiação gestual, num veemente e estilizado encontro corpo/palavra com assumida busca labaniana
da "essência
das coisas".
Wagner Corrêa de Araújo
NAITSU – NOITES COM MURAKAMI está em cartaz no Espaço Rogério Cardoso/Casa Laura Alvim/Ipanema, sexta
e sábado, às 20h30m; domingo às 19h30m. 60 minutos. Até 8 de julho.
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