“O esforço desesperado que o homem faz na tentativa de dar à
vida um sentido qualquer, é teatro”(...) A minha verdadeira casa é o teatro, lá
eu sei precisamente como me movimentar, o que fazer: na vida sou um desabrigado”.
E o oficio teatral foi desde os 14 anos a sua própria razão
de ser, desde o convívio com uma mãe costureira de figurinos cênicos aos dois
irmãos atores com os quais formou a Sociedade De Filippo. Considerado o Molière
da contemporaneidade, além de ator e dramaturgo, Eduardo De Filippo também alcançou altos voos
como cineasta.
E seu grande salto inventivo acontece pelo assombramento
mágico ao assistir Seis Personagens em
Busca de Um Autor, tornando-se muito
próximo de Pirandello e suas teorizações dramatúrgicas entre o ser e o parecer;
entre o ator e o homem no ato da representação no palco da vida.
Este conceitual entre o verismo e o delírio, entre o cômico e
o patético, entre enganos e verdades, marca as alternâncias da narrativa dramática
de Estes Fantasmas, encenado em 1946
e filmado sob seu comando diretor em 1954.
E que anima uma temporada carioca em tempo de crise, dando
continuidade à Trilogia Eduardo De
Filippo, na acurada e artesanal idealização, tradução e teatralização de Sérgio Módena,
com prestigiosos elenco e equipe técnico/artística.
O casal Pasquale ( Thelmo Fernandes) e Maria( Ana Velloso)
muda-se para uma antiga residência senhorial napolitana onde, instigado pelo porteiro
Rafaele (Alexandre Lino), acredita nas fantasmagorias do prédio e no espectro
beneficente de Alfredo( Gustavo Wabner) , o corpóreo amante de sua consorte.Com
as intervenções de personagens incidentais (Stella Freitas, Celso André e Rodrigo Salvadoretti)
ou alternativos ( por parte do elenco protagonista).
Na dubiedade de caráter assumida , Thelmo Fernandes imprime
uma sutil nuance pirandelliana ao dimensionamento psicológico de sua
personificação, entre o falso e o real,
o fingimento e a malícia. Em similar postura, mas assumidamente
rascante, um mix de ingenuidade e esperteza marca a espontânea fluência de
Alexandre Lino na exploração de sua linha incisiva de comicidade.
Uma presencial veemência, mais uma vez, destaca as episódicas passagens
de Stella Freitas, enquanto Ana Velloso supre com emotividade sua atuação. Gustavo Wabner e Celso André tem
unidade interpretativa sabendo como traçar bem a condução mais discricionária de
suas performances e Rodrigo Salvadoretti sofre a natural limitação de seus
papéis.
Os figurinos ( Mauro Leite) e a cenografia(Doris Rollemberg) revelam uma elegância
decadente com um gosto sintonizado em tempos idos. O acerto de uma trilha
incidental de Marcelo Alonso Neves, com um perceptível tom nostálgico , acentua
a fantasmagoria de um casarão mergulhado
num desenho de luz(Tomás Ribas) entre sombras.
Identificando-se com estes personagens de almas
atormentadas, perdidas, irrequietas, negras e tristes (assim qualificados
por Eduardo De Filippo) talvez, para encontrar soluções cívicas , tenhamos,
sabe-se lá, que recorrer , também, a Estes Fantasmas ...
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo