Dentro dos parâmetros polêmicos e controversos da estética do
movimento Dogma 95, o cineasta Lars von Trier foi mais longe ainda no seu
conceitual radicalizado de um anti-musical, através de seu filme Dançando no Escuro.
E onde as canções de Björk ,na sutil excentricidade de seus
acordes e na melancólica poesia de suas letras, conduz, entre pontuais e não
menos sombreados movimentos coreográficos , o brutalizado destino de uma
imigrante tcheca em busca do sonho americano.
A versão teatral do americano Patrick Ellsworth preserva , em
sua integridade, o caráter soturno do roteiro fílmico original. Seguido à risca
, com perceptível carga expressiva e inventiva concepção técnico/artística por
Dani Barros, uma reconhecida atriz
inicializando-se no oficio diretorial.
Operária de uma fábrica e portadora de um mal ocular
degenerativo, a imigrante Selma(Juliane Bodini), excluída de digna condição
cidadã, enfrenta todas as adversidades na busca de recursos para que seu filho
adolescente Gene( Greg Blanzat) escape a tempo, cirurgicamente, dos avanços de
uma doença genética. Mas , acusada do assassinato incidental do segurança Bill Houston(Lucas Gouvêa) ,
transforma sua luta em insensata fatalidade.
No entremeio intervencionista de outras personagens
femininas, tais como Linda Houston(Júlia Gorman),a mulher de Bill, a colega de
fábrica Carmen Baker(Cyria Coentro),a guarda penitenciária Brenda(Suzana
Nascimento), além das personificações assumidas por Luiz Antonio Fortes, Andreas
Gatto, Marino Rocha.
Onde a potencial organicidade do elenco favorece a
representação , capitaneada pelo irradiante
e irrepreensível presencial dramático/vocal/coreográfico do protagonismo mor de
Juliane Bodini.
Tendo como preciosos acólitos
técnico/artísticos, o inteligente painel cenográfico (Mina Quental) com singularizado
sotaque “braille” , paralelo à propriedade dos tons pasteis da indumentária padronizada(Carol
Lobato) e da cinzenta ambientação do desenho de luz (Felício Mafra).
Sem esquecer da
sensorial apropriação sonora com que Marcelo Alonso Neves, via sua afinada trupe instrumental(Allan Bass,Dilson Nascimento, Johnny Capler, Vanderson Pereira), assume as sutilezas harmônicas
e os arroubos experimentais das composições de Björk, propiciando o consequente acerto
estilístico do gestual coreográfico(Denise Stutz).
Completando, enfim, este propício exagero de derivações
qualitativas, o necessário e obrigatório aplauso à artesanal, amadurecida ,
corajosa e reveladora estreia de Dani Barros na direção teatral.
Dosando, sem artificialismos melodramáticos, o seu tratamento de um musical
fora da padronização clássica. Áspero, excêntrico, virulento, sem “happy end”,
patético na crua verdade de sua solução final. Dançando no Escuro com sua narrativa sombria, mas sabendo iluminar a atual
temporada carioca.
Wagner Corrêa de Araújo
DANÇANDO NO ESCURO está em cartaz no Sesc/Ginástico/Centro/RJ, de quinta a sábado, às 19h;domingo ,às 18h. 120 minutos. Até 19 de novembro.
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