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FOTOS/PEDRO MURAD |
Saudosismo, nostalgia, paixão marcam a simbologia mítica e , por que não, também a resistência fetichista dos que nunca abandonaram o formato LP, o velho bolachão, em detrimento do CD, seu diminuto substitutivo.
Com os seus lados A e B, transubstanciados no ritualismo de sua
manipulação manual e na tecnologia de seu quase imperceptível, mas charmoso,chiado da agulha na eletricidade estática (dizem
até de superior fidelidade em reprodução musical). Isto sem esquecer suas capas
e encartes fazendo história, gráfica/documental, em textualidades e fotos pulsando museológicos autógrafos .
Relegados pelas novas tecnologias aos sebos e às estantes
dos colecionadores, eles titulam uma singularizada incursão temática do musical
brasileiro, na dramaturgia de Flávio Marinho e na direção de André Paes Leme, Um Amor de Vinil.
No seu sotaque de comédia romântica, a trama dramatúrgica
parte dos encontros entre Amanda (Françoise Forton), em sua loja de discos de vinil, com o cliente Maurício(Maurício
Baduh). Este, colecionista convicto, sempre
na busca de raridades da canção popular brasileira e que descobre, ali, em registros no velho formato discográfico.
E são, entre estas
idas e vindas ,nos encontros de Maurício com Amanda que a paixão por elepês vai
se confundindo com demonstrações de
progressivo afeto a declarações de amor.
Impulsionando sensorialmente,em hora e
meia, a performance cênico/vocal de dúplice protagonismo , entre solos e duos
musicais, a partir de uma nostálgica incursão a 21 hits memorialísticos da MPB.
Valorando-se na participação,com uma mesma intensidade na entrega, de outra dupla respeitável ,os instrumentistas
Gustavo Salgado( teclado) e Marco Gérard(
violão), este último dublê de ator em episódicas mas reveladoras intervenções ,
como uma terceira voz na desenvoltura da trama. Num repertório sob o comando musical,
sempre acurado, de Liliane Secco.
A propriedade da indumentária (Ticiana Passos) dia-a-dia convive
bem com a sugestão cenográfica( Carlos Alberto Nunes) de um espaço
comercial/bistrô sob luz ambiental (Paulo Denizot). Onde o publico viaja no tempo,
no atravessamento visual/sonoro de capas de discos com lembranças intimistas e
com o desejo cúmplice de afinar-se aos acordes musicais do elenco.
Com seu timbre vocal de seguro alcance, Mauríco Baduh é o par
ideal para a tessitura de Françoise Forton ,esta mais comedida mas de perceptível
envolvência emotiva para falar bem de perto aos ouvidos , corações e mentes de cada
espectador, ampliado no seu sensível e simpático gestualismo, entre canto e teatro,
imprimido por Marina Salomon.
Despretensiosa, mas elegante, é assim a funcional sutileza estética que a direção de André Paes Leme confere ao
espetáculo, favorecendo o clima da representação, ao qual nunca falta o entretenimento lúdico aliado a uma nuance reflexiva.
Capaz, portanto, de sintonizar
, com bons ares e humores, sentimentos
amorosos com sensações de solidão e perda (tema recorrente na ligação intrínseca
da textualidade dramatúrgica e das letras de um cancioneiro romantizado).
Um Amor de Vinil é montagem que vale a pena ser constatada, pois,afinal, na sua aparente simplicidade, não deixa, também, de representar a busca de outros novos caminhos para
o musical brasileiro.
Wagner Corrêa de Araújo
UM AMOR DE VINIL está em cartaz no Teatro do Leblon, sexta e sábado,às 21h;domingo, às 18h. 80 minutos. Até 28 de maio.
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