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FOTOS/LÉO LADEIRA |
Entre a idealização e a verdade, a divinização e a realidade,
as estrelas sobrevivem do sucesso enquanto resistentes à efemeridade que traz ,
antes do acesso à glória do repouso na maturidade, a queda e a decadência.
Resultado de um novo tempo em que os cartazes de cinema
começam a destacar o diretor em detrimento do absolutista star system , o filme de Robert Aldrich – O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, de 1962, faz contracenar, numa única
vez e já em final de carreira, a rivalidade potencialmente memorável das estelares Bette Davis e Joan Crawford.
Explorando, em tempo de thriller psicológico com sotaque “Grand
Guignol”, os ressentimentos, inveja e
maledicências de duas irmãs, estendendo à velhice sua antiga concorrência, como
atrizes, à celebridade. Enquanto estão esquecidas
e aprisionadas a um melancólico casarão, entre sombras , terrores e lembranças
fantasmagóricas.
A partir do roteiro ficcional de Henry Farrell, O Que Terá Acontecido a Baby Jane?tem sua primeira
e inédita versão teatralizada, em realização conjunta da dupla Charles Möeller
/Claudio Botelho, com segura direção do primeiro e primorosa tradução/adaptação do outro.
E tendo no elenco o compartilhamento do protagonismo mor entre
dois baluartes de resplandescente maturidade no teatro brasileiro – Eva Wilma
como Jane e Nathalia Timberg como Blanche.
Acompanhadas no revezamento da performance por Paulo Goulart Filho(com tríplice personificação),além
de Teca Pereira(a empregada), Nedira Campos( a vizinha) mais, alternando nos
papéis infanto/juvenis, Sophia Valverde / Duda Matte e Juliana Rolim/ Karen
Junqueira. Correspondendo todos em organicidade,
na dependência de maior ou menor
incidência na trama dramatúrgica, às exigências e adequação de seus personagens.
Causando um certo incômodo o expansivo desenho cenográfico (Rogério
Falcão), de rigorismo referencial realista , ser quebrado pela falta de maior
confinamento isolacionista do quarto de Blanche com sua cadeira de paralítica , sendo apenas sugestionado como um andar acima.
Onde a acertada nuance de nostálgica elegância dos figurinos
(Carol Lobato) e os acordes de romantismo
e tensão do score musical são acentuados
pelas modulações luminares de Paulo Cesar Medeiros.
Diante do desafio da difícil transposição aos limites cênicos de clássicos
efeitos cinematográficos de fantasia, medo, claustrofobia e psicose, o comando diretor de
Charles Möeller revela fôlego , coragem e consistência.
Sintonizada com a vigorosa e cativante interpretação artística de dúplice
prevalência entre o patético e o grotesco, o risível e o trágico, na personificação representativa do imaginário feminino e humano em Blanche
e em Jane.
E dimensionada psicologicamente ora no confronto da verdade interior e da rebeldia, frente ao desprezo e à submissão, no papel de
Nathalia Timberg, ora diante da densidade
melodramática de frieza , impiedade e alienação do personagem de Eva Wilma.
Wagner Corrêa de Araújo
O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? está em cartaz no Teatro Net/Rio, quinta e domingo, às 18h; sexta e sábado, às 21h. 70 minutos. Até 25 de Junho.
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