ZORBA O GREGO: DANÇANDO ENTRE APOLO E DIONÍSIO


FOTOS/ PATRÍCIO MELO


Foi a partir de um estranho telegrama recebido de um simples minerador Georges Zorba, na iminência da Segunda Guerra Mundial,  que o escritor grego Nikos Kazantzakis , poucos anos depois, escreveu seu romance Zorba O Grego(1942).

Este personagem, caracterizado por uma pureza de alma e uma alegria de viver, capaz de “agir como se a morte não existisse , ou agir pensando na morte a cada instante” tornou-se símbolo de uma dança libertária (sirtaki ) de afirmação da vida.

Imortalizado,assim, na literatura de Kazantzakis e no cinema (Michael Cacoyannis),chegou à Broadway (1983) e ao  balé, na criação coreográfica  de Lorca Massine( 1988), com a partitura sinfônica de Mikis Theodorakis. E que teve a sua mais recente remontagem (2013) com o Ballet de Santiago, sob a segura direção artística de Márcia Haydée.

Quando o turista americano John (Lucas Alarcon) chega a uma aldeia da Grécia e se apaixona pela viúva Marina(Natalia Berrios), desperta um irado ciúme de seu rival Manolios(José Manuel Ghiso). 

Até a chegada do expatriado Zorba(Rodrigo Guzmán) que , ao mesmo tempo, incita sonhos amorosos na velha cortesã Madame Hortense(Andreza Randisek) e se torna fator de equilíbrio entre os conflitos dramáticos de perspectiva trágica.

Na concepção coreográfica de Lorca Massine há um visível referencial da dialética de Nietzsche entre o apolíneo e o dionisíaco,presente no original literário. Aqui o estilo clássico, com seu rigor de sublimidade apolínea, se confronta com a pulsão dionisíaca  de danças nativas gregas, num fluxo passional catártico entre Eros e Thanatos.

Ainda que perpasse um sotaque  de grandiloquência melodramática decadentista numa narrativa de linearidade crepuscular ( à moda de boa parte dos balés épicos do período soviético),prevalecem o  apurado senso plástico de uma cenografia(Jorge Gallardo) indutora da passagem do tempo e de uma cuidadosa execução de figurinos.

A trilha sonora(M.Theodorakis) de pontuados acordes “metasinfônicos”,entre cores instrumentais e quadros corais, inclui um solo para mezzo-soprano de idealizada tessitura para o inspirado  pas-de-deux  do segundo ato (Natalia Berríos/Lucas Alárcon).

A nuance melancólica, quase kitsch, do personagem de Andreza Randisek, tem um contraponto na enérgica gestualidade física e na singularizada entrega técnica/emotiva ao papel título  por  Rodrigo Guzmán.

Que , ao lado de um afiado elenco, especialmente nas cenas de conjunto masculino, é capaz de remeter ,na provocação de sua performance exuberante , à postura de Zorba como um alter ego do pensar rebelde de Nikos  Kazantzakis, na metafórica  inscrição em sua lápide :

Não tenho nada a desejar, não tenho nada a temer, eu sou livre”.




ZORBA O GREGO, COM O BALLET DE SANTIAGO, depois de SP. BH e RJ, se apresenta em  Curitiba, Teatro Guaíra, 27 de julho, e Porto Alegre, Oi Araújo Vianna, dia 29 de julho.

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