Até onde podem chegar
ou não haveria delimitações na
cena teatral, em sua contextualização
com outras linguagens artísticas ?
Esta postura ritualística, ao confundir o teatro com o happening , a “live
art” e a performance seria, então, o que John Cage idealiza como a forma mais autêntica de encontro entre a criação
artística e a vida , em “eventos teatrais espontâneos e sem trama”.
Continuando, assim, todo um desbravamento iniciado entre o
dadaísmo e as teorizações defendidas por Antonin Artaud ,singularmente expostas
nas páginas de “O Teatro e Seu Duplo”.
A dramaturgia de Christiane Jatahy ,em A Floresta Que Anda,tem
como elo inspirador a tragédia Macbeth de Shakespeare, utilizando um mix de elementos
plásticos/teatrais/cinematográficos.
Marcada pela
sanguinolência, em nome do egoísmo
ambicioso do personagem título, até a derrota da tirania por um exército disfarçado em árvores, a proposta
promove a inserção da contemporaneidade
política à trama original.
No teor formalista de
uma vernissage , o público penetra num espaço de cenografia(
Marcelo Lipiani) não configurada, onde encontra simultâneas exibições fílmicas
autorais( Jatahay/Paulo Camacho) ,de
manifestações populares, ocupações públicas, depoimentos de imigrantes e favelados. Ao lado da
perplexidade de objetos realistas , como
um peixe morto em decomposição.
Ao mesmo tempo, drinks são servidos em um balcão e a
iluminação( Camacho) é apenas sugerida entre sombras. Enquanto surgem intervenções, apenas delineadas na obscuridade, ora com integrantes da equipe de criação,ora através das adesões de espectadores, além da atuação da única atriz Júlia Bernat, trajada rigorosamente de negro (Fause Haten).
Na sequencia, de alusivo significado ao título da peça, as telas se movem
alternativamente, na inclusão de fragmentos, textualizados imagèticamente, do
Macbeth original. A performance feminina solo(Júlia Bernat) faz, aí, um mix referencial de posturas , entre o gestualismo
coloquial e um instantâneo referencial pinabauschiano de dança/teatro.
Mas, ao contrário da absoluta clareza inventiva na apropriação
anterior de Strindberg( Senhorita Júlia) e de Tchekov ( As Três Irmãs) em Se Elas Fossem Para Moscou , aqui o paralelismo
de linguagens artísticas acaba
desprivilegiando o elemento teatral. Numa
metalinguagem cênica , onde o contraponto visual/cinematográfico tem sua
visível prevalência.
Fator que acaba não desqualificando a integralidade
simbológica da concepção que, na verdade, é sem delimitações no seu
experimentalismo multimídia ,ainda que revele um traço hermético em sua transgressividade.
Teatro, cinema , artes visuais,instalação, performance,
verdade, ficção? Pouco importa, quando seu grande salto criador pode estar na
intervenção contestadora do espaço cênico convencional e na reflexiva e inquietante constatação de " um conceito que se contesta a si mesmo ".
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