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| FOTOS BY MARCOS MORTEIRA | 
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Em Cenas de Um Casamento,   relato de costumes sociais  e
retrato  psicológico de um caso conjugal,
resistente a dez anos mas prestes a desabar diante de uma insustentável
fragilidade afetiva, Ingmar  Bergman faz um corte laminar  no vazio dos relacionamentos
humanos.
Inicialmente uma série, em cinco capítulos,  da televisão sueca, chegou ao cinema (1974)
e, daí, para uma adaptação teatral do próprio autor. No Brasil, teve uma
primeira versão  dirigida por Rita
Russek  ,com Regina Braga e Tony Ramos.
E, agora, na leitura dramatúrgica da tradução de Maria Adelaide Amaral chega aos palcos
cariocas, sob a direção de Bruce Gomlevsky.
Entre mentiras e verdades, afetos e agressividade, solidão e
medo , o professor universitário Johan( Heitor Martinez)  e a advogada de ações familiares Marianne(
Juliana Martins) vão descortinando situações de um casal em que a felicidade,
agora,  é  de falsas aparências e  em que nada mais será como antes.
Desde a frieza sexual e a indiferença de Johan quanto a uma
nova gravidez de Marianne,  até a
revelação de que está com outra mulher e que vai viver longe com ela.  Mas entre idas e vindas, ambos com outros parceiros,  decidem finalmente pelo divórcio. Mas  descobrindo , na transgressão de   amantes ocasionais, a saída  para os desgastes convencionais do  casamento oficializado.
Juliana Martins tem uma  visível sensibilidade  interpretativa nas suas modulações  emocionais .  Sem subentendidos,  na sua sinceridade por um  marido idealizado, seguida  de veemente 
  violação  da rotina de confiança no comando masculino.  Enquanto Heitor Martinez revela franqueza ,
sem meios tons, ao se colocar na ação com sua linha de humor cético e
ameaçador.
A cenografia ( Pati Faedo) pouco acrescenta ,  com seu controverso ambiente de instalação por
módulos ,onde os atores ficam meio deslocados na sequência dos quadros
titulados. Compensada na elegante funcionalidade dos  figurinos (Ticiana Passos), das adequadas
luzes (Elisa Tandeta) e das precisas incidências musicais (Alex Fonseca).
Se Bergman foi incisivo em seu questionamento de ”duas
pessoas que estão se desligando de uma série de convenções e demandas,
especialmente a mulher que, de alguém que aceitava todas as regras, passa a
oferecer resistência e a criar suas próprias regras”.
Bruce Gomlevsky soube alcançar, enfim,  com visão crítica própria  e alquimia dramática, os paradoxos de um
casamento em ruínas. Sabendo apelar  para
um clima mais naturalista, sem uma falaciosa introspecção armada diante dos lugares  comuns desta guerra a dois .
 E sem perder , jamais
,a força reflexiva  de Bergman, sabendo  imprimir 
,à ambiência coloquial e cotidiana 
desta crônica da decomposição conjugal, 
o inteligente    brilho
estético de uma  teatralidade cerimonial.
CENAS DE UM CASAMENTO está em cartaz no Teatro dos Quatro, Gávea, sexta e sábado, 21h; domingo, 20h.  90 minutos. Até 01/maio .
 
 

 
 
 
 
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