EUGÊNIA : AMOR E PUNIÇÃO NA CORTE PORTUGUÊSA

FOTOS  / THIAGO SACRAMENTO

Na breve passagem que antecedeu a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, começou a aventurosa trajetória amorosa,sujeita a muitos percalços, de “Eugênia”, de sobrenome José de Menezes e filha de um governador mineiro da colônia .

Em tempos de árida situação imposta à condição feminina, com a exclusão social e o preconceito contra as índias e as escravas e as duras regras domésticas dos valores patriarcais para as mulheres brancas, Eugênia , por trás dos panos, armou, em Lisboa, um perigoso jogo de amor e poder.

Grávida do Príncipe Regente D. João VI, ela transgrediu a ordem masculina da sucessão, enfureceu sua mulher Carlota Joaquina e trepidou as aparências morais e religiosas do palácio real . Atribuindo-se a outrem a paternidade do nascituro (uma menina), armou-se,então, o seu exílio para terras distantes.

Entre as suposições e a verdade histórica, a dramaturga Miriam Halfim, numa sucessão de cenas , parte sempre do referencial do não esquecimento do primeiro homem que desvendou para Eugenia os segredos da alcova amorosa.

Num texto ágil e anti- convencional onde as liberdades cronológicas ,ora comportamentais , ora gestuais, ora musicais induzem, isto sim, a uma envolvente atemporalidade de sua encenação.

Que, sob o dinâmico comando de Sidnei Cruz , é enriquecida sobremaneira, na mobilidade dos elementos cenográficos ( José Dias) ,com a sutil arquitetura plástica de suas instigantes caixas "de Pandora" , de surpresas e males secretos.

Completada na nuance aquarelista dos figurinos( Samuel Abrantes), na condução climática das luzes ( Aurelio de Simoni) e no sotaque galhofeiro do score sonoro( Beto Lemos).

Além, é claro, da sedutora expressividade corporal da atriz ( Gisela de Castro), aliada às suas instintivas modulações vocais, convergindo elementos da comédia , do teatro de revista, da chanchada, da bufonaria, sem cair nunca na tentação do riso fácil e dos clichês.

Pelo contrário, mesmo com sua estilização histórica , entre o circense e o fantasioso, conseguindo manter o refinamento reflexivo sobre a eterna condição da mulher.

Onde, evocando Balzac , “O texto da vida feminina será sempre igual ! Sentir, amar, sofrer e sacrificar-se!”




EUGÊNIA em nova temporada, no Espaço Cultural Sérgio Porto,Humaitá, sábado, domingo e segunda, às 20h. 55minutos. Até 25 de Julho.Entrada franca, mediante senha.



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