FOTO BY RENATO MANGOLI |
“Quando a cortina se abre. O futuro já é presente desde a
eternidade” – emblemática reflexão de Lukács , em plena modernidade do século XX. Que conceitualiza a pulsão
irremediável da tragédia clássica , na impossibilidade da condição humana em arquitetar seu próprio destino.
No confronto entre o terror e o orgulho, a vingança se realiza
pela fatalidade, com a vitória alcançada na redenção pela liberdade. Na teoria aristotélica, a tragicidade acontece na “imitação dos caracteres, das paixões e das
ações humanas” e “provocando piedade e temor, opera a purgação de semelhantes
emoções”.
“Electra” alcança , com
tal notabilidade, o sentido mítico do herói trágico que foi capaz de incursionar
,ora como personagem na trilogia
Oréstia, de Ésquilo, ora na
protagonização titular das tragédias homônimas
de Eurípides e Sófocles.
Induzido pelas forças divinas, Agamenon sacrifica a primogênita
Efigenia, gerando o ódio assassino de sua consorte Clitemnestra (Camilla Amado).
Que , dividindo o trono usurpado com seu
amante Egisto(Alexandre Mofati), diante dos protestos da filha Electra(Rafaela Amado) ,
escraviza-a. Até que o retorno do irmão exilado Orestes( Ricardo Tozzi) concretiza
a solução definitiva.
A degradante condição servil de Electra contrasta com os
privilégios de sua irmã Crisótemis( Paula Sandroni), aparecendo ainda, na trama,
o Preceptor (Francisco Cuoco), e na individualização
do coro, o ator Mário Borges.
Inspirada num adaptação de Antônio Abujamra(1965) que enfrentou, com irônico
brio, o censor com a ordem de prisão de
Sófocles, esta “Electra” é dirigida com grandeza dramática por João Fonseca ,em
solene e afetivo tributo estético ao seu mestre Abú.
Onde certas ressalvas no figurino ( Marilia Carneiro/Reinaldo Elias) são compensadas pela elegante armadura de Tozzi
e a imponência do manto de Camila. E no exponencial dimensionamento da altivez em Camilla, do orgulho ferido em
Rafaela, da resignação em Paula, do heroísmo em Tozzi. Com interferências mais
discretas de Cuoco e Mofati.
E, enfim, no meticuloso resgate do coro com voz única ( Mário
) ,em performance de sutil modulação e rara filigrana vocal , capaz,assim, de conduzir à reflexiva catarse palco/plateia no epílogo de Sófocles:
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