FOTOS BY MARCELO ALMEIDA |
A cada dia alimentamos
o ódio e aumentamos os recalques do conviver com tanta absurdidade. No assistir, terrificados , às contradições de um país, entregue a uma governança
insana, qual pífia representação de bufonaria política.
É aí, então, mais que necessária, ainda que apenas pela
força da criação artística, a deflagração de uma iniciativa, de tamanho acerto
e ressonância, como o PROJETO bRASIL. Da Companhia Brasileira de Teatro ,
original de Curitiba, sob o comando de Márcio Abreu.
Na surpresa do minimalismo cênico(Fernando Marés), no
despojamento do figurino(Ticiana Passos) e na lucidez da inventiva arquitetura fragmentária de sua direção (Márcio de Abreu). Entre pensamentos, ações, comportamentos, conduzidos,
mimeticamente, à concepção do espetáculo, após dois anos itinerantes
pelos brasis afora.
Aqui, não existem limites entre as diversas linguagens
artísticas, neste retrato, sem retoques mas de
extremada afetividade, de pessoas, acontecimentos, relatos e posturas
de vida, sem distinções entre a trivialidade e o majestático, entre o cotidiano
e o imaginário.
Quando você se depara com duas atrizes( Giovana Soar/Nadja
Naira) , um ator (Rodrigo Bolzan) e um músico (Felipe Storino), capazes de
incendiar corações e mentes com textos, corajosos e sensíveis, investindo
na exploração documental/estética de um universo incômodo pela sua hipocrisia.
Ou quando os males de nossa triste contemporaneidade de nação, qual “gigante adormecido”, ecoam ,diante dos avanços civilizatórios, no cerrar
os olhos pela jurisdicional igualdade do casamento entre os mesmos sexos . Na
incisiva cena inicial , da coletivização de um beijo atores/plateia, selando lábios sem
preconceito.
Também na simbologia de um ator( Rodrigo Bolzan) desvestido como veio ao mundo, solenizando a verdade política e ética do
ex-presidente José Mujica, unificando a regionalização latino americana no transubstanciamento reflexivo da palavra inteligente da Ministra francesa
Christiane Taubira.
Na culminância afetiva da reinterpretação em libras de Um Índio( Caetano Veloso) por Giovana Soar. Nas sonoridades musicais( Felipe Storino) de reverberativa retórica. Na gestualidade destemida(Márcia Rubin), com um referencial “pinabauschiano” ,e na consonância das luzes(Nadja
Naíra/Beto Bruel).
Ritualístico e profano
, fantasioso e denunciador, arquétipo e verdadeiro, violento e sensório. Entre
performances plásticas e sonoras, incursões narrativas, dança e teatro, na denúncia de um “bRASIL” que é, na projeção de um BRASIL que poderia ser.
(PROJETO bRASIL está em cartaz no Espaço Sesc/Mezanino , Copacabana, de quinta a sábado, 21h;domingo, 20h. Sessões extras na quarta e no domingo. Até o dia 25/outubro)
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