FOTOS/ARNALDO J. G. TORRES |
Uma guerra contra todas
as guerras – o axioma
do Dadaísmo ecoou desde sua instauração
pelo Cabaret Voltaire, na Zurich de 1916.
Com seu substrato nonsense a partir da própria nominação Dadá - inspirada no balbuciar vocal de
um bebê ao brincar com um cavalinho de pau - seu ideário artístico era o de
subverter a ordem estabelecida.
Pelas vias do absurdo e da demolição de quaisquer regras sociais
ou princípios estéticos, a desconstrução feroz ia da prevalência da
plasticidade visual à poesia, do teatro à música. E, no seu ato de anarquizar, incluindo
a experimentação coreográfica instauradora de viscerais fisicalidades. Abrindo,
enfim, com esta integralização artística, as comportas para a sequencialidade
do movimento surrealista.
Ao optar por uma releitura coreográfica de substrato dadaísta,
os diretores/criadores do Ballet Stagium (Décio Otero e Marika Gidali) alcançam
mais um lance mallarmaico de dados. Pela
apropriação ideológica da invenção Dadá
no destruir para construir, através do referencial irreverente da proposta
estilística de Figuras e Vozes.
Mas sem deixar, é claro, de armar o olhar na
contemporaneidade, trilha fiel destes criadores sempre inseridos na tradição
transmutada em renovação. Marca registrada e compromisso de uma companhia de
dança antenada na brasilidade e na sua
identidade de politização, presencial desde a origem (1971) em anos obscuros de
ditadura militar.
Nesta obra original de 2014, seguida de inúmeras turnês, em oportuno tributo ao centenário do
Movimento Dadaísta, há outra vez, o conluio da pesquisa gestual aliada à
expressão cênica. Sabendo valorar a linguagem da dança contemporânea com
rigorosas fundamentações neoclássicas.
Aqui, seus 15 bailarinos se entregam a um enérgico jogo de
teatro coreográfico, na confluência da investigação do movimento aliado ao
espírito atlético e à concepção cenográfica. Em incisivas reproduções performáticas
de Fabio Villard com signos emblemáticos, como os “readymade” de Marcel Duchamp
(a roda de bicicleta, o urinol e o vaso sanitário).
Além da indumentária (Marcio Tadeu) em predominante tonalidade vermelho sanguíneo, sob potencial realce de luzes vazadas (Edgard Duprat). Extensivo a máscaras lembrando o imaginário de violência, tortura e terrorismo do dadaísta Marcel Janco.
Além da indumentária (Marcio Tadeu) em predominante tonalidade vermelho sanguíneo, sob potencial realce de luzes vazadas (Edgard Duprat). Extensivo a máscaras lembrando o imaginário de violência, tortura e terrorismo do dadaísta Marcel Janco.
Sob apurado recorte musical (Décio Otero) indo dos dadaístas
Germaine Albert-Birot e Hugo Ball, este com seus poemas sonoros, aos acordes
vanguardistas de Wim Mertens e Meredith Monk, sem deixar de incluir as
interferências pátrias de Tetê Spindola e Marlui Miranda.
O irracional e o delírio na progressão dramática e coreográfica, sintonizados com a problemática de nossa época, trazem
a esta representação do Ballet Stagium a retomada do seu habitual elemento de
espontânea e provocadora pulsão estética.
Que, a partir do lúdico junto à competência artesanal, nunca
deixa de refletir, além da solidez como espetáculo, seu imanente contraponto critico.
Wagner
Corrêa de Araújo
BALLET STAGIUM – Figuras e Vozes – está em cartaz no Teatro
da Caixa Nelson Rodrigues, de sexta a domingo, às 19h. 60 minutos. Até 14 de
outubro
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