![]() |
FOTOS/DAN COELHO |
Desde que estreou em outubro de 1972, Pippin ficou marcado na história
do teatro musical na Broadway por dar continuidade a uma nova e bem sucedida incursão
do gênero no pop/rock, antecedido pela explosiva carreira do Jesus Chris Superstar e do Godspell, respectivamente da dupla
Andrew Loyd Webber/Tim Rice e de Stephen Schwartz, este em dúplice ofício autoral.
Por outro lado, na sua abordagem temática, todos eles refletindo
os anseios e as frustrações geracionais de uma juventude perdida entre os
protestos à Guerra do Vietnam, o apelo libertário das viagens
alucinógenas e do livre exercício da sexualidade (antes do pesadelo da Aids).
Presencial tanto nos musicais de substrato cristão/evangélico,
como na tentativa de se afirmar a qualquer custo, na episódica trajetória existencial, por quaisquer saídas e soluções. Como nesta criação seguinte de
Stephen Schwartz, Pippin, a partir de um livro de Roger O.Hilrson,
transubstanciada na inventiva versão coreográfica/direcional de Bob Fosse. E ,
agora retomada (a segunda vez em palcos brasileiros desde 1974) pela dupla
Moeller/Botelho.
Com uma conotação atemporal de contemporaneidade, Pippin(Felipe de Carolis), no término
dos estudos universitários, retorna à sua ambiência familiar medieval, a do rei Carlos Magno(no
baritonal destaque de Jonas Bloch). Onde
não se identifica com os instintos bélicos de seu meio irmão (um desinibido Guilherme
Logullo) apesar de, incitado por este e pela sua lúbrica madrasta(uma energizada Adriana Garambone), a
ser o usurpador do trono paterno.
No entremeio desta sua aventura sequencial, o carismático cerimonialismo - gestual/vocal/narrativo - da personagem
de Totia Meirelles, com rápida mas antológica intervenção cênica de Nicette
Bruno( Berthe), como uma avançada e atrevida avó, em passagem culminante da performance, na emblemática canção A Vida é Uma Só. E, ainda, a espontânea atuação de Cristiana Pompeo como Catharina, a viúva, e
seu menino, na irrepreensível interpretação infanto/juvenil de Luiz Felipe
Mello.
A princípio Felipe de Carolis (Pippin) demonstra boa
progressão dramática no delinear dos caracteres de um ansioso mas titubeante jovem
que insiste nos seus enfrentamentos destinais.
Mas deixa perder a intensidade deste exigente vocabulário psicológico em
reiterativa representação, não resistível ao prevalente e coeso domínio emotivo/vocal
do elenco protagonista.
Sabendo como equilibrar a nuance mais reflexiva da montagem original,
de 1972, com o sotaque burlesco/circense da americana de 2013, a prestigiada
dupla concepcional e diretorial(Charles Moeller/Claudio Botelho, este na
versão do libreto), trazem de volta um Pippin apurado nos mínimos detalhes.
Desde o pórtico cenográfico (Rogério Falcão) frontal, de teatro
dentro do teatro de referencial épico-barroquista, à aquarelada indumentária(Luciana
Buarque), de indução grotesco/erótica, potencializada nas mutações luminares de Rogério Wiltgen.
Completada no rompante impulso coreográfico(Alonso de Barros), com
arroubos pélvicos em evocativo tributo
sensorial a Bob Fosse, e sob uma sempre empática condução musical de Jules
Vandystadt.
Integralizando, enfim, mais um sólido investimento e uma generosa
contribuição à releitura do musical da Broadway em palcos brasileiros.
Wagner Corrêa de Araújo
PIPPIN está em cartaz no Teatro Clara Nunes, Shopping da Gávea, quinta às 17h; sexta e sábado, às 21h.; domingo, às 19h30. 130 minutos. Até 21 de outubro
Nenhum comentário:
Postar um comentário