FOTOS/RICARDO BORGES |
Que, entre as exigências para ser bem vendida, tem que ter
segura distorção de uma inicial acontecência
de ares reais . Mas revirada ao avesso
para ganhar a aparência de verista, no disfarce do boato e da falsificação que
está por trás de sua construção gramática.
Tema que vem marcando, sobremaneira, não só as narrativas literárias
como as tramas dramatúrgicas, tornando crédulos os mentirosos como o Iago que faz de uma intriga, aparentemente inócua, um mal fatal que leva Desdemona e, também, Otelo ao ataúde.
Explorado, agora, na
nova dramaturgia carioca, pelo ângulo da indústria informativa, manipulada por
uma agencia profissional de comunicação em busca de candidatos a uma vaga para
profissionais nas artes da inverdade.
Ltda, com textualidade do competente autor, diretor
e ator Diogo Liberano que, desta vez, conta com uma cia. teatral baiana atuante
no Rio, o Coletivo Ponto Zero, e com mais um surpreendente comando diretorial
da atriz Debora Lamm.
Ao se submeter às regras para a admissão na agência de falseamento,
o recém jornalista Edimilson(Leandro Soares) tem seu primeiro confronto sobre
ética profissional com os sócios contratantes Lydio (Lucas Lacerda) e Lenise (Bruna Scavuzzi), assistidos pela descompromissada funcionária Luana ( Brisa
Rodrigues).
Enquanto, paralelamente, como uma terceira voz, direcionando,
como narrador, o sequencial da progressão dramática, aparece o personagem do
leitor (Orlando Caldeira).
Se, eventualmente, a contextualização temática não se expande
totalmente em cena, com mais ousada calibragem critica dos irresponsáveis
meandros entre a notícia e a sua falsificação. Ou no desnecessário aporte e quase
estranhamento do epílogo, avançando na questão racial/política a partir do assassinato de
Marielle.
Na dúplice função de cenógrafa/diretora, a concepção de
Debora Lamm é o componente mais inusitado e original da montagem, sabendo como preencher,
inventivamente, quaisquer claros e ausências, e favorecendo, assim, a representação.
Através de um tratamento ágil que é imprimido à movimentação
gestual(Denise Stutz) e ao fluxo vocal/sonoro(Marcelo H) da performance,
com corretas interpretações da dupla Lucas Lacerda e Bruna Scavuzzi. Convincente entrega de Leandro Soares
à dosagem bem-humorada do personagem fingidor de anti-ético.
Além da enérgica espontaneidade revelada por Brisa Rodrigues como a mais questionadora e resistente personagem aos apelos da má conduta. Completando-se
o quadro cênico, com a menor inflexão funcional tanto do papel como nas
intervenções de Orlando Caldeira.
Com discricionário desenho de luz(Ana Luzia de Simoni) e adequada indumentária(Ticiana Passos), em
espetáculo com válida postura intencional, entre possíveis restrições, e que vale ser conferido.
Wagner Corrêa de Araújo
LTDA está em cartaz no Teatro Eva Herz/Livraria
Cultura/Cinelândia, de quinta a sábado, às 19h.70 minutos. Até 26 de maio.
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