![]() |
FOTOS/LU VALIATTI |
Atravessamos a existencialidade, entre triunfos e amarguras, exaltações
e derrotas, cercados literalmente por vidas de todos os lados. Como num palco, entrando e saindo pelas coxias, sucedem-se as performances dos variados personagens que compõe a trama comum desta nossa compartilhada comédia humana.
Cada dia uma nova história neste pequeno grande mundo de
nossas relações que se cruzam com outras, arquitetando dramatúrgicamente o
estranhamento ou o absurdo desta narrativa cotidiana.
Um tanto grotesca um tanto sórdida, entre assombramentos e
surpresas, risível ou patética, lúdica ou
trágica. E que vai se sucedendo, pouco a pouco, nos espaços da
convivência urbana/residencial que dividimos ao compasso da dança das horas. Cada
qual a cada vez representando seu
próprio papel.
Como num suceder de flashes, retrato entre claros e escuros, demonstrado, com rara artesania, no caminho teatral arquitetado pela textualidade
de A Vida Ao Lado, sob o tríplice
ofício - autoral, performático e diretorial - de Cristina Fagundes frente ao seu Clube da Cena.
Como um libreto de ópera bufa, desdobrados personagens tragicômicos tem
seus ariosos, duetos e cenas coletivas, dando tempo ostinato a uma progressão dramática
que, num aporte fragmentário de histórias cruzadas e frases entrecortadas,
resulta numa envolvente solução teatral.
A partir da ameaça e da instabilidade emocional causada por
um condomínio residencial de classe média que vai dar lugar inimaginável a um
aquário público, deixando todos não a ver navios mas a peixes, os futuros inquilinos
da pousada aquática.
A concepção cenográfica (Alice Cruz/Tuca Benvenutti)
privilegia uma ambientação de tubos PVC sugestionando um desenho composicional
hidráulico. Enquanto os efeitos luminares (Aurélio De Simoni) são alterativos
entre um clarificado vazamento e pontos focais, ressaltando uma indumentária (Sol
Azulay) unificada em tons discricionários.
A tipicidade referencial físico/psicológica dos moradores do
prédio condenado à implosão explora, em tons de irônica comicidade, uma diversificação de personagens.
Assumidas em postulações dúplices por um coesivo septeto atoral (Alexandre Barros, Alexandre Varella,
Ana Paula Novellino, Bia Guedes, Cristina Fagundes, Flávia Espírito Santo,
Marcello Gonçalves).
Personificando de adultos a crianças, entre idosos e jovens, gays e
apátridas, subempregados e solitários preconceituosos ou amorais, além do
eterno e indefectível síndico, numa amarrada gramática cênica conduzida em
admirável crescendo dramático pela direção de Cristina Fagundes.
Todos entregues a um jogo teatral vivo, sabendo como alcançar
os mecanismos de uma representação bem humorada que, na espontaneidade de seus tons
farsescos e sem perder o contraponto
crítico, revela incomodas situações e desairosas intimidades - de A Vida ao Lado mas que
também podem ser nossas...
Wagner Corrêa de Araújo
A VIDA AO LADO está em, cartaz no Teatro Serrador,de quinta a
sábado, às 19h30m. 90 minutos. Até 26 de maio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário