![]() |
FOTOS/ELISA MENDES |
“Mil vezes a
obscuridade dos que amam, dos que cegam de ciúmes, dos que sentem falta e
saudade. Nós somos um imenso vácuo, que o pensamento ocupa friamente. E, isso,
no amanhecer de Copacabana”.
Antônio Maria, recifense, carioca por adoção, alma brasileira
de cronista, compositor e boêmio. Atravessando as madrugadas boêmias cariocas, da Copacabana anos 50, entre ser o inquilino
solitário ou o inveterado cúmplice de
ébrias noitadas de muita dor de cotovelo
e samba canção.
Tornadas crônicas em colunas jornalísticas, reunidas em
livros, ou na composição de alguns antológicos momentos da MPB (apenas três
destas canções – Valsa de Uma Cidade, Manhã de Carnaval e Ninguém
Me Ama -já validando seu memorial) .
Locutor de programas radiofônicos de música e de esporte, com
passagens pelo então nascente universo da televisão, além do convívio com
alguns significativos nomes da época(Di Cavalcanti, Caymmi, Jorge Amado,
Vinicius de Moraes, entre muitos outros). Sem esquecer de sua declarada
idolatria artístico/passional por mulheres como Maysa e Dolores Duran.
“O pior encontro casual
da noite ainda é o do homem autobiográfico. Chega, senta e começa a crônica de
si mesmo”.
Destas ensimesmadas incursões lúdico/literárias pela
cotidianidade cultural/doméstica e a ambiência
notívaga de uma cidade, ficou um inspirado
legado literário e afetivo que conduziu à singular idealização dramatúrgica
autoral e performática de Cláudio Mendes em Maria, sob o comando diretorial de Inez Viana.
Interiorizado, na sua nuance confessional de um convicto
solilóquio, Cláudio Mendes com um sensibilizado tônus vocal e na fluência dum
simpático e fluente gestual vai imprimindo o dimensionamento psicológico que o
personagem exige.
Enquanto a artesanal conduta de Inez Viana vai concedendo um
peculiar tratamento dramático à representação a partir de um núcleo narrativo
simples que, na sua sobriedade cenográfica, prima pela funcionalidade tanto no
figurino(Flávio Souza) como no desenho de luz( Paulo César Medeiros).
Com sombreados acordes cellistas ao vivo(Maria Clara Valle), melancolizando acertadamente passagens existenciais mais controversas do
personagem, entre os sofridos silêncios da
solidão, dos amores irrealizados e da
própria finitude de sua breve jornada. Alterativo com as canções a capella pelo protagonista, sob segura direção musical (Ricardo Góes).
Transmutando o teor lírico/romântico das letras e dos
escritos do cronista/compositor em ação num espaço/tempo simplificado, Maria estabelece um jogo teatral, materializado
no entremeio de um musical e de uma textualidade monologal, capaz de criar sensoriais
liames palco/palco e alcançar, assim, a
cúmplice adesão de cada espectador.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
MARIA está em cartaz no Sesc/Copacabana(Mezanino), sexta e sábado,
às 21h; domingo, às 20h. 70 minutos. Até 06 de maio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário