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FOTOS/CAROL PIRES |
Entre idas e voltas, o musical com moldes brasileiros vem insistindo
em incursões biográficas, especialmente de cantores/compositores, onde quase
nada se cria e tudo se copia, com honrosas exceções, é claro. Numa mesma fórmula, ora de apelo à cronologia
linear de vida, alterativa com obras musicais ligadas à trajetória do
personagem real teatralizado, ora numa colagem antológica de acordes ou fatos representativos
de uma época.
Sobram assim poucos espaços para um investimento mais ousado
tanto na textualidade como, de maior exigência, no score musical. E ao
espectador com um olhar mais armado, como
ao critico e ao jurado, prevalecem carências por uma mais impactante criatividade
ou um mais incisivo teor investigativo, tanto quanto à revelação de novas
possibilidades para o gênero.
Ao se deparar com um titulo por si só ironicamente
questionador como A Vida Não é Um
Musical cria-se, assim, uma expectativa de que algo de diferente deve estar
por trás desta proposta e que não
iremos, outra vez, enveredar por trajetórias biográfico/musicais.
E é isto, exatamente, o que parece reafirmar a pretensão do projeto
dramatúrgico/musical de Leandro Muniz, já responsável por singularizada visão do
suporte comediógrafo através de seu tão bem“sucedido”espetáculo nominado,
propositalmente, como “Sucesso”.
Aqui ele desestrutura, em satirizada abordagem, com riso
inteligente e demolidor, as bases “fantasiosas” da fábrica formular de “sonhos
musicais”, fugindo do recontar histórias que nada tem de inusitado para os
habituais frequentadores dos espaços
teatrais.
No seu tempo espacial
convivem duas encenações, “a do universo
dos contos de fadas da Disney e a do atual cenário político", em que seus
personagens rompem o situacionismo edulcorado da ordem e da tradição abstraído da
realidade, trocando o delírio lírico pelo pesadelo político/social da contemporaneidade
brasileira.
Onde, tal e qual uma Alice, em proximidade referencial inclusive
indumentária, Liz (Daniela Fontan) no
acreditar em doces mistérios além do seu “País
das Maravilhas", cai numa favela, é assaltada, ameaçada de estupro,
conscientizando-se afinal de que não é nada saudável o que está fora dos verdes
vales “Disney”.
Seguida, ainda, das decepções pelo abandono do seu
dulcificado/idiotizado marido(Marcelo Nogueira), ao se deixar levar por obscura cabala ideológico/político, da qual
faz parte seu novo namorado(Nando Brandão). Mais as vilanias e violências, nas farsistas
promessas de campanha do candidato à reeleição como governador (Thelmo
Fernandes).
Complementando-se o alcance cênico, através de um elenco
diversificado, entre boas revelações e o presencial de nomes já conhecidos, em
convicto desempenho coletivo, com maiores ou menores destaques de acordo com
seus papeis e intervenções.
Do protagonismo absoluto
de Daniela Fontan, Marcelo Nogueira e Thelmo Fernandes, à competente
participação de Augusto Volcato, Ester Dias,Flora Menezes,Ingrid Gaigher, Joana
Mendes, Nando Brandão e Udylê Procópio.
Contando, também, com acertadas ambiguidades estilísticas tanto dos elementos cenográficos (Nello Marrese) entre o luxo e o lixo, aos figurinos(Carol Lobato), entre o bonito e o feio, ressaltados em luzes ambientais(Paulo Denizot).
Duplicidade extensível à espontaneidade da trilha sonora autoral(Fabiano Krieger), da romantização melódica a energizadas nuances de acordes pop/samba/funk, dividindo-se o comando musical com Gustavo Salgado, na concomitância de sons e gestualidades coreográficas(Carol Pires).
Contando, também, com acertadas ambiguidades estilísticas tanto dos elementos cenográficos (Nello Marrese) entre o luxo e o lixo, aos figurinos(Carol Lobato), entre o bonito e o feio, ressaltados em luzes ambientais(Paulo Denizot).
Duplicidade extensível à espontaneidade da trilha sonora autoral(Fabiano Krieger), da romantização melódica a energizadas nuances de acordes pop/samba/funk, dividindo-se o comando musical com Gustavo Salgado, na concomitância de sons e gestualidades coreográficas(Carol Pires).
Explorando cenicamente, entre o risível e o grotesco, os
desalentos da vida como um anti-musical no confronto verista com seus podres
poderes, a direção conjunta (Leandro Muniz/João Fonseca) assume, artesanalmente, um jogo lúdico de marcações ferinas e bem humoradas. Com ironizados rompantes de
desaforos e exageros, em surpreendente fronteirização do melodramático e do
cafajestismo político.
Wagner Corrêa de Araújo
A VIDA NÃO É UM MUSICAL está em cartaz no Espaço
Sesc/Arena,Copacabana, sexta e sábado, às 20h30m;domingo,às 19h. 105 minutos.
Até 6 de maio
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