FOTOS/RENATO MANGOLIN |
No final dos anos 80 tive a chance de realizar uma longa entrevista com a coreógrafa Susanne Linke, uma das mentoras do movimento de Dança/Teatro e integrante/bailarina de criações da cia de Pina Bausch, no “tanzstudio”da Folkwang em Essen, a mais importante escola alemã de dança contemporânea.
Naquele momento já se definia, ainda em meio a controvérsias,
o conceitual estético do inovador encontro de duas linguagens artísticas , até então, resistentemente compartimentadas. Demolindo,
assim, a quarta parede entre a fisicalidade coreográfica e a textualidade
dramatúrgica, na mais livre e pura integração do movimento e das palavras.
“Quando se usam temas
do teatro, é necessário saber que
tratamento dar em sua transposição para o movimento coreográfico. Passei
pelas duas formas e sei dos riscos que esta tendência representa, pois há
sempre a possibilidade do teatro prevalecer. Pode-se ficar com as duas formas
mas desde que se conheçam bem os limites
de cada uma”, afirmou Susanne Linke
em seu depoimento.
Com exceção da própria, com sua larga experiência didática e artística em dança contemporânea e nas
expressões da corporeidade e da direção de movimento cenográfico. E , é claro, na participação especial de Angel Vianna , em forma
de tributo aos seus noventa anos, com seu simbiótico papel inventor/interventor do
gestual cotidiano da dança para o teatro.
Se ela surpreendeu, pela pulsão criativa gestual/expressiva, na concepção diretorial tanto no entremeio
teatro/música do consagrado Auê como do não menos premiado musical
infanto-juvenil “A Gaiola”, agora
sua perspectiva investigativa tem necessária pressa pois O Tempo Não Tem Tempo.
Para isto, concorre o deslocamento em perpetual motion da
narrativa dramatúrgica concebida coletivamente (Duda Maia, Gregorio Duvivier e
Gonçalo M. Tavares ) na extensão de um sintonizado elenco/construtor (Ciro
Sales, Juliana Linhares ,Marina Viana,Oscar Saraiva), enriquecido pela força
presencial/simbólica de Angel Vianna.
Todos direcionados na unidade interpretativa desta
arquitetura de corpos em movimento, de contínua intensidade , ora na envolvência
explícita dos apelos sensuais (na visceralidade lírico/erótica do duo de Ciro Sales/Juliana Linhares), ora nas ressonâncias dramático/incisivas de emoções interiorizadas(no cativante solo muralista de Marina Vianna).
Aflorando imageticamente na direção de arte(Theodoro
Cochrane) com o precioso auxilio dos recortes luminares (Renato Machado), sob
evocativas intervenções sonoro/musicais( Ricco Viana). Na cumplicidade
interativa de um espetáculo de provocação contra o imobilismo pela convocação da plateia
ao comportamental itinerante.
Desde o inventário nostálgico/poético da infância nas nuances lúdico/emotivas dos cânticos de roda (na cena de palco com Angel Viana e o quarteto de atores), às
ressonâncias psico/físicas das vivencias urbanas e das viagens
siderais/mentais de cada um de nós.
No delineamento de um
espaço cênico/dramatúrgico do movimento sensorial reflexionando o processo da
passagem temporal, entre o ontem e o hoje, investindo no descortino de novos
caminhos da dança/ teatro ao teatro físico.
Wagner Corrêa de Araújo
O TEMPO NÃO DÁ TEMPO está em cartaz no Oi Futuro/Flamengo, de quinta a domingo, às 20h. 75 minutos. Até 25 de fevereiro.
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