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FOTOS/PRISCILA VILLAS BÔAS |
“Os frutos escuros giram
e caem./O vidro se espatifa,/A imagem/Foge e aborta como gotas de mercúrio” – enigmáticos e proféticos versos
como um enunciador epitáfio da trágica trajetória existencial da poeta americana Sylvia Plath.
Marcada, na brevidade de seus 30 anos, pela interrupção
voluntária entre gazes de um forno, na terceira e exitosa ação
suicida , em 1963 .No seu inventário poético, as prevalências psicanalíticas das figuras
patriarcais , desde um pai/ídolo que ela perde aos oito anos, ao seu idealizado substituto masculino, o marido /
poeta Ted Hughes.
Mas , depois de passagens felizes – os dois filhos e a entrega
absoluta ao ofício poético - é tornada vítima de surtos depressivos. Na angústia de
seus questionamentos sobre a condição humana. E nos espectros atormentadores do ciúme, pelas
traições de Ted com a amiga comum Assia
Gutman.
Num processo de identificação com a criação artística e a
vida de Sylvia Plath , Alessandra Gelio transubstancia em processo
especular, na textualidade autoral de Se
Eu Fosse Sylvia P. e na sua
vivencia de atriz, este metafísico encontro de duas vidas .
Como se estivessem ambas na mesma “Redoma de Vidro”, num processo referencial memorialístico ao livro autobiográfico da escritora de Boston.
E reencontrando similaridades cotidianas na morte do pai na infância, na
tentativa de suicídio aos vinte anos e nas
turbações pelas incertezas de uma grande paixão amorosa. Isto sem falar nos
seus próprios desnudamentos poéticos ,
de proximidade intimista e confessional com o universo de Sylvia
Plath.
Dividindo com Cyntia Reis a sintonização cênica, entre nuances
metafóricas e tessituras veristas, das possíveis verossimilhanças de duas trajetórias
poético/existenciais, Alessandra Gelio concretiza uma sensorial e irradiante transposição dramática.
Com perceptíveis alcances no sensitivo protagonismo titular de Alessandra
Gelio e no convicto contraponto feminino do papel de Teia Kane, na dúplice caracterização
das passagens das instabilidades amorosas, assim como na densidade que Léo Rosa imprime à construção de seu
personagem.
Contando, ainda, a artesanal adesão de seus parceiros técnico/artísticos,
no desenho sutil de uma luz( Renato Machado) entre sombras , na eficaz sobriedade dos figurinos(Rosa
Ebee/Tiago Ribeiro) e dos acordes / blues ao vivo por Fellipe Mesquita.
E, especialmente, no direcionamento onírico dos elementos
cenográficos ( Elsa Romero) com sua materialização de signos poéticos entre
Plath e Gelio, como a redoma/aquário de morte suicida, os potes aquarelados, suspensos
como lampadários de sonhos líquidos , e os manuscritos literários para leituras comuns
com espectadores aleatoriamente escolhidos.
Se Eu Fosse Sylvia P. se recomenda, enfim, por sua
estimulante experiência jovem nos esforços pela renovação de nossos palcos.
Wagner Corrêa de Araújo
SE EU FOSSE SYLVIA P. está em cartaz no Teatro Cândido Mendes/Ipanema, terça a quinta, às 20h. 80 minutos. Até 23 de fevereiro.
NOVA TEMPORADA: no Teatro Café Pequeno, Leblon, quartas e quintas, às 20h. Até 01 de Junho.
NOVA TEMPORADA: no Teatro Café Pequeno, Leblon, quartas e quintas, às 20h. Até 01 de Junho.
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