PÁPRICA FOTOGRAFI |
Duas constatações, talvez, para pulsão inspiradora do dramaturgo suíço Eric Gideon na composição de
um “musical terceira idade” sobre o
universo, ancestral e antológico, do rock a que ele titulou Forever Young.
De um lado a iniciativa britânica, alguns anos antes, com a
banda The Zimmers , para resgatar roqueiros, todos acima da faixa de
80 anos, abandonados por seus familiares ou , simplesmente, esquecidos em
asilos e instituições psiquiátricas.
Paralela à proximidade do rock aos seus setenta anos desde
que, em julho de 1954, Elvis Presley entrou em estúdio para gravar That’s Alright Mama.
Ou , no contraponto da energia musical , do espírito libertário
, do descompromisso jovem e da
descontração física, a reflexão de verismo melancolizado – assim éramos como ídolos,
assim seremos nós, futuros idosos.
Dominados pelas fraquezas da fisicalidade, esclerosados pela
acomodação mental, marcados pelas rugas e manchas senis mas, quem sabe, ainda
assim capazes da redescoberta de alegres tempos idos.
Desconstruindo as forçadas conformidades, as humilhadas
sombras de ancestrais trajetórias e a utopia dos frêmitos da juventude num
viajante revival.
Trocando seus palcos olímpicos
pela íntima exiguidade de um retiro.E valendo-se mais do aplauso recíproco de uma “platéia” auto referente nos seus cinco
vocalistas , um pianista e uma enfermeira.
Onde, estereotipado no deboche aquarelado de seus figurinos
(Paulette Pink) e de um visagismo bem humorado(Hugo Daniel),o elenco atua no
décor de um espaço cênico(Rosa Berger) tributo ao teatro brasileiro, sob uma
iluminação(Fran Barros) de discricionários efeitos.
Com os zombeteiros controles, nas entradas e saídas de Fafy Siqueira(a
enfermeira), dos arroubos rebeldes dos velhinhos roqueiros. Nos embalos do hippie eterno (Marcos Tumura), nos achaques senis dos personagens de Drayson Menezes e Claudio Galvan, nos desafetos do produtor (Jarbas Homem de Mello), na sutil
resignação à passagem do tempo (Vanessa Gerbelli) e na superatividade nas acrobacias
de tessitura vocal (Paula Capovilla).
Para driblar uma trama narrativa convencional, monocórdia e
previsível, o comando diretorial (Jarbas Homem de Mello) é compensado,
especialmente, pelo eficaz desempenho musical do repertório de clássicos do rock
e convictas caracterizações cênicas de personagens caricatos .
E, claro, por uma apurada
execução pianística de Miguel Briamonte, com arranjos cativantes , capazes de
tornar cúmplice a nostalgia dos “velhinhos” do palco e da plateia.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
FOREVER YOUNG está em cartaz no Teatro das Artes/Shopping da Gávea, quinta a sábado, 21h; domingo, às 20h. 90 minutos. Até 19 de fevereiro.
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