FOTOS/RICARDO BRAJTERMAN |
A contribuição de Felipe Vidal à cena carioca , na sua
incisiva investida em buscas dramatúrgicas do projeto Complexo Duplo, está sintonizada no seu postular e
questionar, pelo esclarecimento estético , momentos turvos ou caros de nossa
contemporaneidade cultural e cidadã.
Como foi seu olhar sobre o Tropicalismo em “Contra o Vento – Um Musicaos”(2015)
e ,agora, voltado ao rock dos Titãs
em “Cabeça–Um Documentário Cênico”, instaurando outras perspectivas e um novo
criticismo na abordagem formalista do teatro musical brasileiro.
Onde, ao mesmo tempo em que possibilita um dimensionamento
nativo ao “teatro documentário” de Erwin Piscator, estabelece pontes coletivas -
palco/plateia- de reflexões sobre um vir a ser contraditório, entre o idealístico
sonhar e as mazelas manipuladoras da Nação.
Aqui, ao visitar , faixa a faixa, em três décadas de
lançamento do emblemático LP dos Titãs –
Cabeça Dinossauro, constata que
aquele instante feroz do rock brasileiro, ainda, não viu a materialização dos convictos
ecos de protesto e denúncia de uma geração hoje na idade meio centenária.
Evitando a prevalência apenas do caráter lúdico/musical na
transposição show><teatro das 13 canções da gravação original, os oito
atores/performers musicais (Felipe Antello,Guilherme Miranda,Gui Stutz,
Leonardo Corajo,Lucas Gouvêa, Luciano Moreira, Sérgio Medeiros) incluindo-se aí
o dramaturgo diretor Felipe Vidal, fazem sua desaforada , enérgica e irradiante
releitura do disco.
Este jogo teatral vivo,
resultante de um processo coletivo, maduro e necessário, no seu conteudístico
embate de politização e confronto conscientizado, ao mesmo tempo, surpreende pela força instintiva e espontânea
de sua representação.
E, ao fazer de sua encenação um fator propulsor de ideias e
contestador de convencionalismos, atraindo também quando transita, acompanhado
de visualizações, pelo inventário memorialístico de seus intérpretes.
Seus elementos técnico/artísticos revelam, assim,
organicidade na indumentária cotidiana(Flavio
Souza), no referencial showbizz da
iluminação ( Tomás Ribas) e do envolvente videografismo( Eduardo Souza).
Além do sensorial gestualismo(Denise Stutz) vivenciado pela eufórica direção musical, de
Luciano Moreira ao lado do mentor Felipe Vidal, dublê de cenógrafo, acumulada com a performance
e o comando mor.
Gritando todos visceralmente o seu discurso teatralizado em Igreja, Estado Violência, Porrada, Massacre , Dívidas
, Bichos Escrotos, entre outros tantos cantos ressonantes, nesta ópera/rock
diferencial. Em reverberante lição contrária aos paradoxos de um País na inversão conceitual , implícita
e explicita, de sua Ordem e Progresso.
E que, diante de tanto delírio e caos, poderia melhor ressignificar este seu anátema na irreverência laminar do
paradigma titânico:
“O que não pode ser é o
que não pode ser “.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
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