FOTOS/AGATHE POUPENEY/PATRICK BERGER/LAURENT PHILIPPE |
Um
inventivo e orgânico encontro entre a mídia digital e a gestualidade de origem
urbana marcam a Compagnie Käfic em sua criação Pixel ,original de 2014.
Desde
que o coreógrafo/diretor Mourad Merzouki , há uma década,na Bienal de Lyon,
foi envolvido pelo ardor entusiasta das trocas corporais da capoeira , decidiu integrar
dançarinos populares brasileiros em alguns trabalhos de sua Cia.
Juntou
assim à sua formação de hip hop, circo e artes marciais,ritmos e gestualidades
das comunidades e favelas. Em obras que vem se sucedendo desde que a Käfic se tornou um fenômeno de mídia, com
o recorte autoral , de elegante contemporaneidade coreográfica, que ele dá às danças
urbanas.
Numa
impactante sequência que inclui, entre outras criações, Correria e Agwa, onde faz
uso de elementos atléticos e de conceituais ecológicos. Priorizando sotaques e
gestualidades nativas africanas, caribenhas e brasileiras , paralelas a
manifestações etnográficas das chamadas danças urbanas, do hip hop ao rap,do break ao funk.
Em
Pixel, com que excursiona agora por
várias capitais brasileiras, soube , com inteligência emotiva e domínio formal,
aliar a tecnologia mais avançada das projeções digitais com a fisicalidade de
corpos em perpetual motion.
Sem
nunca perder o foco de que a materialização de luzes em cores e efeitos visuais
singulariza um diálogo arrojado e expressivo dos bailarinos com a tecnologia
3D.
Onde,
ao contrário dos múltiplos e usuais abusos cinéticos que subordinam a dança a detalhes de imaginárias sombras espectrais , dá a hora e a vez ao visível desempenho físico/coreográfico, no comando
interativo da plasticidade das digitalizações computadorizadas.
Diante
das translúcidas insinuações de imagens fragmentadas de águas, murais tridimensionais
, superfícies geometrizadas, prevalece, em sua integral mobilidade, uma dança
vigorosa com traços da urbanidade. Aos
quais se juntam objetos lúdicos/esportivos tais como arcos e patins.
O
gestual dos onze bailarinos, com absoluto apuro técnico e envolvência sensorial,
tem uma pegada de lastro naturalista e muito feeling, desde improvisos a
movimentos coreografados. Ao lado, de
contorcionismos de acrobacia circense, corridas atléticas e rodas de break.
De
impetuosas rupturas de pernas e braços a ombros robotizados e quedas
bruscas, com apoios solares em pés, mãos e cabeças, no seu referencial rapper dos
exibicionismos em espaços públicos.
A
inspirada trilha sonora (Armand Amar) é um destaque a parte com suas
incidências ambientalistas a partir de cordas, teclado, percussão, vozes, sintetizadores
numa leitura diferencial da sonoridade hip hop/rap.
Completando-se
com figurinos cotidianos, tudo flui em Pixel, num dialogo de espontaneidade poética com a mimética digital e a corporeidade
cênico/coreográfica para sustentar, enfim, a cumplicidade da plateia.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
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