FOTOS/CIDADE DAS ARTES/ ZÉ LU GONÇALVES |
Antes
de se tornar diretor do Ballet du Nord, Olivier Dubois já
tinha desenvolvido uma sólida carreira como bailarino, tendo atuado em criações
de Angelin Preljocaj, Jean Fabre e Sasha Waltz, entre muitos outros nomes
fundamentais no panorama da dança contemporânea.
Ao
desenvolver suas próprias obras coreográficas, tornou-se dono de um estilo
singularizado pelas suas experimentações no cruzamento visceral de diversas
linguagens artísticas, especialmente o teatro, as artes plásticas , a música e
a literatura.
Suas
criações quebram quaisquer limites entre a tradição e a vanguarda, nas suas frequentes inserções de elementos
libertários, por uma dança espontânea, reflexiva do modus vivendi dos mais
díspares estratos sociais.
Assim
, ele faz questão de reunir em seus espetáculos tanto profissionais da dança como amadores que
nunca pisaram um palco. Ao mesmo tempo, em
que não privilegia o status estético do physique du rôle, idealizado na corporeidade apolínea de técnica perfeita.
Em
comentário crítico sobre seu espetáculo Tragédie, apresentado no Brasil em
2015, ressaltamos,então, que “ havia uma sagração do corpo físico ao
transformar, assim, em objetos de contemplação artística, num mesmo grau de
validação , rostos e troncos, braços e
pernas, traseiros e órgãos sexuais. Unindo o elemento erótico ao emocional
interior, numa dignificação humana à
unicidade matéria / espírito”.
Nesta
sua temporada carioca, com "Mémoires d'un Seigneur", Dubois vai ainda mais longe ao colocar em cena
apenas um bailarino profissional – Rémi Richaud, acompanhado de 50 amadores,
todos masculinos, recrutados em diversas
comunidades periféricas da cidade.
A
inclusão destes “excluídos sociais” legitima, assim, a autenticidade de uma
digna proposta, ainda que em metafórica temporalidade
cênica, de resgate das marginalizações
pelo incentivo às pulsões artísticas.
Onde,
ainda que alcem meio voo gestual diante da força interpretativa do solista,
estes cinquenta coadjuvantes, com sua
despretensiosa e espontânea entrega,
configuram um emotivo e bravo momento de afirmação redentora do coletivo
social.
Sob
luzes sombrias (Patrick Riou) e árido score sonoro(François Caffenne),corpos
rastejantes como serpentes diante de um anti-herói tirânico. Que em sua compulsão de poder revela, em vigorosa
presença dramático/coreográfica,o irradiante talento do jovem bailarino de
apenas 21 anos, Rémi Richaud.
No
que se refere à concepção coreográfica/teatral de Olivier Dubois, sua
contextualização filosófico/literária revela um referencial nietzschiano de vaidade, domínio e superioridade humana sobre uma submissa massa,
de informe e patética ambiguidade.
E
na sua formatação estética, com traços de Martha Graham que remetem, ainda, a
Béjart e Bausch, “Les Mémories d'um Seigneur”, para o próprio Dubois, “é talvez
a história de um rei , de imensa solidão”, mas numa trajetória de loucura e
tragédia que pode ser,quem sabe, a de cada um de nós.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
LES MÉMOIRES D'UN SEIGNEUR ,espetáculo de Olivier Dubois,esteve em cartaz na Cidade das Artes,RJ, dias 12 e 13 de novembro.
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