FOTOS/RENATO MANGOLIN |
Ocupando
um lugar à parte na nova dramaturgia carioca, Júlia Spadaccini vem se dedicando,
com afinco, a uma contextualização das relações humanas sob os aspectos
afetivos e no âmbito familiar, com um olhar armado na contemporaneidade.
Dando
continuidade à sua singularizada linha autoral, com culminâncias maiores em sua peça “Quebra
Ossos”( 2012) e, especialmente em “Um Dia Qualquer”(2013), ela retoma os palcos com novas escrituras para um texto de dez anos e até
agora inédito.
Até o Final da Noite é , assim, outro mergulho na vida cotidiana, no mais
trivial do que se passa na jornada doméstica de um casal de meia idade – Olavo(
Isio Ghelman) e Ana Lúcia ( Angela Vieira). Algum tempo depois da partida para o
leste europeu do filho único, e na expectativa de um jantar com novos amigos - Edu (Rogério Garcia) e Branca( Letícia
Cannavale).
Também
unidos matrimonialmente, ambos representam outras possibilidades de uma vida a dois, de novos
tempos geracionais além do ciclo cronológico rotineiro e sem perspectivas dos anfitriões, envelhecidos
sob um mesmo teto há trinta anos.
Olavo
encara, com sua habitual indiferença e descrédito, esta visita, ironizando-a
até no que ela significa de incômoda invasão jovem de sua passividade
domiciliar quase “anciã”.
Enquanto
Ana Lúcia insiste em acreditar na enérgica jovialidade do outro casal – Edu e
Branca, como possível fator de transformação da desgastada proximidade física e
do vazio passional de um marido conformista.
Onde
o personagem de Angela Vieira, com sua cativante e espontânea
performance, revela nuances peculiares ao expressar seus desalentos caseiros ,
em tons sempre humorados e longe de quaisquer quedas melodramáticas.
Numa
mesma coesão, tem realce o vigoroso
tratamento que Isio Ghelman imprime à sua postura de critico sarcasmo às tentativas
de sua consorte de fuga aos lugares comuns do convívio conjugal.
Mesmo
com o empenho de entrega aos seus papéis, a participação de Letícia Cannavale e
Rogério Garcia fica relegada , pela própria delimitação da trama dramatúrgica,
a uma função coadjuvante.
A
solução cenográfica ( Beli Araújo),mesmo não sendo novidade, tem uma bela
eficácia, sob o desenho de luz (Renato Machado) e ao lado do acerto dos figurinos((Ticiana Passos) e do confronto de
épocas e estilos musicais( Leandro Baumgratz).
Na
dimensão psicológica do seu formato
dialogal, Até o Final da Noite, na concepção diretorial de Alexandre Mello, ancorada na experiência
de suas anteriores incursões na obra de
Julia Spadaccini, prioriza o naturalismo
das falas e ações.
Onde
o ritmo e a sinceridade de seu comando favorecem o clima da representação. Criando
imediata identificação de cada um de nós com a metafórica simbologia do enfrentamento
dos cactos às habituais securas do dia-a-dia.
Wagner Corrêa de Araújo
ATÉ O FINAL DA NOITE está em cartaz no Teatro do Leblon, quinta e sábado ,às 21h30m;domingo , às 20h. 70 minutos. Até 19 de fevereiro.
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