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FOTOS/DALTON VALÉRIO |
“O maior dramaturgo de língua sueca desde
1912”, o ano em que morreu Strindberg. Assim é definida , pela crítica de seu país, a trajetória autoral de Lars Norén
que, aos 72 anos, tem uma vasta e reconhecida obra publicada, entre a poesia e o
teatro especialmente.
Na
sua identificação com os relacionamentos depressivos que marcam a cinzenta
atmosfera nórdica de Strindberg a Bergman, ele revela ,ainda, traços do insight psicológico e do reducionismo a
um único espaço cenográfico e tempo cronológico das peças de O’Neill, Albee e Pinter.
Na
sua teatralização da disfunção dos relacionamentos amorosos no âmbito familiar,
há uma psicopatologia dos traumas existenciais. Aqui, em Demônios, original de 1984, retratados com um humor ácido, na insensatez infernal de amores rastejando entre ódio, egoísmo e
solidão.
E
de concretude, apenas, entre pulsões de agressividade e depravada banalização
da sexualidade, na fria ambientação doméstica de um casal burguês sem filhos – Katarina(Luiza Maldonado) e Frank( Bruce Gomlevsky).
Que,
às vésperas da cerimonia fúnebre com as cinzas da mãe deste último, recebem a
visita do casal vizinho Thomas(
Gustavo Dasmaceno) e Jenna (Thalita
Godoy). Com seu quase tributo contextual ao “medo de Virginia Wolf”, numa
“longa jornada noite a dentro”.
Numa
original concepção cenográfica ( Bruce Gomlevsky/Bel Lobo) em formato de arena
esportiva, dando aos espectadores um olhar
superiorizado sobre células representativas de recantos de um
apartamento. Decorado à base de elegante design, mas com objetos e peças de
vestuário displicentemente deixadas ao léu.
Onde
a iluminação ( Elisa Tandeta) ,com gradativos nuances, contextualiza
requintados figurinos(Andrea Fleury), sob o bom gosto de incidências
musicais (Bruce Gomlevsky)com um sotaque
preciso de ópera e jazz para sublinhar a ação.
A
alma egocêntrica de Frank exerce seu domínio insano como fuga à sua
incapacidade de escapar da obsessão edipiana pela mãe morta, em virtuosística
performance de Bruce Gomlevsky.
Enquanto
o emotivo contraponto da Katarina de Luiza Maldonado é exercido na compulsão erotizada
de um personagem, entre a sensualidade de sua indumentária ou da atrevida
fisicalidade desnuda.
Completando
esse nervoso round de corações e mentes, as inseguranças de Thomas são
compensadas nas rompantes atitudes personificadas por Gustavo Damasceno e as
carências afetivas de Jenna na angustiosa tensão do papel de Thalita Godoi.
Em
Demônios, carismática dramaturgia das
maldades da condição humana, o comando conceptivo/diretor de Bruce Gomlevsky
expressa sua contumaz e potencial abordagem do insólito e do humor negro em uma
instintiva gramática cênica.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
DEMÔNIOS em nova temporada ,no Teatro do Leblon, segundas e terças, às 21h; 100 minutos.Até 13 de dezembro.
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