FOTOS/ MARCO ROCHA E F LÁVIA FAFIÃ |
“É por natureza que a
maioria dos seres comanda ou obedece”,
propugnava Aristóteles em sua Política.
E esta dicotomia –dominados e submissos - capaz de colocar
uns acima e outros abaixo, feitores e escravos, patrões e criados, maridos autoritários
e mulheres “domesticadas”, torturadores ou vítimas, continua como uma marca cínica do processo evolutivo civilizatório.
Mas não houve, afinal, em 1789, a surpresa histórica do propício questionamento da abusiva legitimidade divina do poder, até então consentida e resignada? Envolvendo, entre
outros, luminares escritores/filósofos como o iluminista Denis Diderot.
E ,no esteio das comemorações bicentenárias 1789/1989 deste
marco zero ,foi onde surgiu o ideário da
peça de Ronaldo Lima Lins – Jacques e a
Revolução ou Como o Criado Aprendeu as Lições de Diderot.
Uma escrita dramatúrgica que se viu espelhada na fundamental obra de
Diderot “Jacques o Fatalista e o Seu Amo”, dos anos de aproximação da Revolução Francesa. Como o fizera, em
1971, o escritor Milan Kundera em sua única incursão teatral “Jacques e Seu Amo”.
Remetendo ainda,referencialmente, a uma precursora abordagem desta relação
patrão><empregado no Bertold Brecht de “O Senhor Puntila e Seu Criado Matti”, em tempo de comédia política.
Enquanto no texto de Kundera é retomada a simbologia da
viagem, elo condutor original do romance
de Diderot, a concepção de Ronaldo Lima
Lins envereda pelas relações clássicas do poder, transubstanciadas na
contemporaneidade dos domínios de substrato econômico/empresarial.
A dualidade regimental estabelecida via patrão/empresário (Luiz
Washington) e criado/empregado Jacques(Abilio Ramos)contrapõe-se entre o
senso da subordinação e o pensar libertário do personagem titular. Dissimulando
um desejo, comum a ambos, da convicção de serem apenas eles os donos de si
mesmos.
Que alternativamente perpassa numa narrativa dialogal de afeto
e ambição , lembranças e atitudes comportamentais ,envolvendo e cruzando suas
vidas também com personificações do elemento feminino( Ana Luiza Accioly/Katia
Iunes).
Onde a incisiva e cativante performance dos dois papéis
masculinos ( Abilio Ramos/Luiz Washington)tem sintonia perfeita num jogo mordaz
e irônico de ataques e parcerias.
Mantendo-se o ritmo da representação,mesmo em papéis coadjuvantes e quase incidentais, no sensível empenho do elenco feminino (Ana Luiza Accioly/Katia Iunes).
Correntes de ferro e cordas sugestionam domínio e prisão, ao lado
de figurinos sóbrios ( Mariana Ladeira/Thais Simões) e uma bem dosada fisicalidade(Carmen
Luz). Tudo, enfim, ambientado sob os belos efeitos do desenho de luz( Renato Machado) e da trilha sonora(Caio Cezar/Christiano Sauer).
O comando diretorial qualitativo de Theotonio de Paiva confere um olhar crítico
e avança, assim, com energia , no desafio de transformar um discurso
textual de prevalência da palavra em convicta e reveladora ação
dramática.
A ecoar,
reflexivamente, a instigante e laminar fala/signo de Jacques e a Revolução:
“Quem é mais digno de
pena? O que bate ou o que apanha?...
JACQUES E A REVOLUÇÃO está em cartaz no Parque das Ruínas, Santa Tereza, De sexta a domingo, 19 h. 80 minutos. Até 30 de outubro.
NOVA TEMPORADA ( 2017 ) no Teatro Municipal Ziembinski, sábado e domingo, às 19h30m. 80 minutos. Até 30 de julho.
NOVA TEMPORADA ( 2017 ) no Teatro Municipal Ziembinski, sábado e domingo, às 19h30m. 80 minutos. Até 30 de julho.
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