Há uma grande polêmica e um complexo questionamento no compartilhamento da
criação coreográfica com os avanços tecnológicos. Até quando os efeitos eletrônicos, entre a imagem e o
som, são capazes de manter íntegra esta relação corpo orgânico e corpo virtual
sem que a dança fique em segundo plano ou deixe de ser uma expressão artística
pura?
Ainda longe de nosso tempo de avançado sistema virtual,
experiências iniciais foram realizadas entre os anos 60/70 por Alwin Nikolais Dance Theater com suas inserções visuais que
tornavam irreconhecíveis os bailarinos sob luzes, projeções, figurinos e
objetos, quais seres espaciais ou microrganismos.
Tal tendência, ao mesmo tempo que atraía com sua provocação, gerava protestos de
grande parte da crítica, público e artistas, pela perda do imanente caráter da corporeidade pura na dança pela dança. Esta, então, exemplificada pela força inventiva e
vanguardista das criações, por exemplo, de Merce
Cunninghan que, aliado à música concreta de John Cage, sempre privilegiava o
gestual coreográfico.
Outros grupos, como o Momix, acabaram se tornando absolutos protótipos desta tendência de integração da dança com os mais
ousados recursos digitais transformando corpos em silhuetas videográficas. As duas cias já passaram por nossos palcos, mais de uma vez, a partir dos anos 70.
Numa perspectiva de sincronicidade, a cia. italiana Evolution Dance Theater (já com duas turnês brasileiras) vem apresentando seus espetáculos de abolição de fronteiras entre dança, atletismo, ilusionismo, ainda que este mix artístico, com seus superlativos efeitos cinéticos, não se incline no favorecimento total da criação coreográfica.
Onde, pelo dimensionamento cênico, o excesso de manipulações
imagéticas revela sua fragilidade quando o palco, em rápidas passagens, desnudado de artifícios tecnológicos, revela bailarinos numa gestualidade
repetitiva, em atletismo rítmico e quase ginástico, sem grande alcance expressivo
como proposta coreográfica.
Por outro lado, pelo experimentalismo de linguagens, os espetáculos desta cia, mesmo assim chegam
a impressionar, ora como uma instalação plástica performática, ora por sua
nuance de celebração ritualística entre ciência física e dança, teatro de
sombras e acrobacia circense, realismo e magia.
Capaz, aí sim, de envolvência emotiva, com um referencial estilístico do Alvin Nikolais e do Momix, por seu direcionamento
de subversão artística a favor de uma livre estética “hightech”.
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