WILLEM DAFOE E MIKHAIL BARYSHNIKOV em THE WOLD WOMAN, de BOB WILSON
Quando, nos anos 60, Umberto Eco disseminou sua teoria da
obra aberta, do artístico ao literário, deixando, como premissa fundamental,
inúmeras possibilidades para a sua fruição e conceituação final pelo
consumidor, houve uma extensão estético - filosófica da ideia ao dimensionamento dramatúrgico.
O múltiplo talento de Robert Wilson, presente no universo cênico e plástico, tornou-o a partir desta época, um artista mor de uma teatralidade experimental absolutamente inventiva. Com espetáculos
impressionando sempre, pela confluência das
diversas linguagens artísticas, sem uma preocupação maior de dar-lhes, nesta pulsão estética, uma clara
explicação enunciativa.
Tempo e espaço, luz, gestual, cenografia minimalista fazem de
suas criações verdadeiras viagens pelos espaços siderais da mente de cada
espectador, propiciando uma tal liberdade conceitual e estilística capaz de extrapolar na continuidade das conversações no pós-espetáculo.
Isto se aplica, de maneira exemplar, na sua provocadora criação dramatúrgica, The Old Woman
(A Velha), pelo próprio fato de se inspirar na obra do vanguardista russo Daniil Kharms, vítima dos desmandos
stalinistas por não se enquadrar nos moldes formais do realismo socialista.
Onde, através de suas nuances cômico, dramáticas, circenses e coreográficas, o encenador Bob Wilson estrutura um dinâmico paralelismo cênico com assumidos tons de uma plasticidade abstrata e, ao mesmo tempo, burlesca.
Quando o narrador / personagem encontra uma velha na rua, o nonsense da ação se estende ao apartamento onde a idosa simboliza a mulher morta e os dois protagonistas do espetáculo (Mikhail Baryshnikov e Willem Dafoe) são, simultaneamente, a representação do escritor/autor do conto, da própria velha e ainda do duplo de cada um.
Onde, através de suas nuances cômico, dramáticas, circenses e coreográficas, o encenador Bob Wilson estrutura um dinâmico paralelismo cênico com assumidos tons de uma plasticidade abstrata e, ao mesmo tempo, burlesca.
Quando o narrador / personagem encontra uma velha na rua, o nonsense da ação se estende ao apartamento onde a idosa simboliza a mulher morta e os dois protagonistas do espetáculo (Mikhail Baryshnikov e Willem Dafoe) são, simultaneamente, a representação do escritor/autor do conto, da própria velha e ainda do duplo de cada um.
Esta narrativa simplória a partir de um fortuito encontro,
cria um jogo absurdo e surrealista, entre o real e o imaginário, entre o ato e
a palavra, entre o dito e o não dito, que leva a vivenciar uma experiência estética singular, raras vezes presente em nossos palcos.
Em menos de duas horas incursionando em onírica trajetória pelo
teatro e pelo circo, pela mímica e pela dança, pela música e pelo canto, completando-se nas
artes visuais. Numa fruição substancial de instantâneos dadaístas, surrealistas,
futuristas, teatro kabuki, music-hall, cinema anos 20 e minimalismo musical.
Enfim, um espetáculo completo pela precisão das performances
de um ator (Willem Dafoe) e de um bailarino ( Mikhail Baryshnikov) dublê de ator, pela plasticidade, pelo seu sentido cênico e,
especialmente, pela possibilidade que dá ao espectador/consumidor desta obra aberta de participar, com seu
próprio pensar, na construção de uma singular tessitura, em arquitetural aventura magicamente
remissiva ao pensamento sinalizador do russo Daniil Kharms:
“Quando vierem nos ver,
esqueçam tudo o que estão habituados a ver no teatro”.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
A apresentação única de THE OLD WOMAN aconteceu no palco da Cidade das Artes, em março de 2014. |
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