Lembranças de março de
2014...
“O teatro musical brasileiro atravessa uma de suas melhores
fases ao assumir um caminho estilístico com temática e ingredientes
nacionalistas. Duas recentes versões cariocas na linha biográfica de ídolos
musicais atravessaram o ano de 2013 com sucesso absoluto de público e de
crítica.
Em Cazuza - Pro Dia
Nascer Feliz, O Musical, texto de Aloísio de Abreu, sob a direção de João
Fonseca, o ponto culminante está na envolvente interpretação do protagonista titular Emílio Dantas com seu encontro funcional da fórmula mágica de equilíbrio - interpretação teatral e vocal.
E neste texto cronológico, que faz uso do show, do drama e de uma certa dose
de humor, embora se estendendo um pouco além no segundo ato, não deixando mesmo assim de agitar e cativar a
plateia, tanto pela encenação como pela nuance de um amargo relato biográfico sem qualquer espaço para censura prévia.
Outro musical que já, a estas alturas, está encantando a
pauliceia é Ellis -A Musical, texto
de Nélson Motta, conduzido com maestria por Dennis Carvalho. Aqui também a
reação favorável do público está toda centrada na protagonista Laila Garin com
seu carisma invulgar em canto e atuação e na sensibilidade com que estigmatiza o élan
emocional da cantora biografada.
Mas não ficam de lado a criativa construção
cênica e a acertada interpretação do elenco, além, é claro, de um mais que
especial comando musical, em espetáculo
campeão de aplausos da crítica e de carismática adesão pelos espectadores.
Outras duas duas peças em cartaz abordam os meandros complicados que afetam o ambiente escolar, ora pela prevalência das estruturas burocráticas dos desmandos, ora pela crise que afeta em seu lado mais profundo a educação brasileira.
Conselho de Classe é talvez um dos mais incisivos e inteligentes
textos da já rica dramaturgia de Jô Bilac. Na aparente simplicidade da despretensiosa abordagem da reunião cotidiana do colegiado de
professores numa escola pública carioca, transmutando-se em sarcástico
questionamento da educação no Brasil.
O texto consegue o pique do corte seco laminar quando revela a desesperança dos professores do ensino público diante de suas falências múltiplas e permanentes, sempre à espera de soluções que nunca chegam.
O texto consegue o pique do corte seco laminar quando revela a desesperança dos professores do ensino público diante de suas falências múltiplas e permanentes, sempre à espera de soluções que nunca chegam.
Um afinado elenco masculino assume, em provocativo conceitual, as identidades femininas, com irônico referencial comportamental, das professoras do primeiro ciclo escolar, sem escorregar na superficialidade do tom
pejorativo. E indo muito além da conotação sexual, ao retratar personagens comuns a este mundo
de crise e de profissionais sacrificados.
Destaque absoluto para a inventiva cenografia que alcançou um
merecido Premio Shell e para a direção especialmente envolvente da dupla Bel
Garcia e Susana Ribeiro. Espetáculo imperdível, já em final de sua segunda
temporada.
O outro texto - Oleanna
- do conhecido autor norte americano David Mamet, um título simbólico inspirado
no nome de numa comunidade alternativa da Pensilvânia, com estreia recente mas
já com força apelativa e alcance de dossier crítico entre o
público, nas habituais conversas pós-apresentação com elenco e direção.
Sabendo usar de maestria artesanal ao mostrar os embates de domínio e submissão entre uma universitária (Luciana Fávero) e seus professores (a peça alterna com acerto a personificação masculino><feminina entre a atriz (Miwa Yanagizawa) e o ator (Marcos Breda), em performances e dias alterativos.
Sabendo usar de maestria artesanal ao mostrar os embates de domínio e submissão entre uma universitária (Luciana Fávero) e seus professores (a peça alterna com acerto a personificação masculino><feminina entre a atriz (Miwa Yanagizawa) e o ator (Marcos Breda), em performances e dias alterativos.
Onde o fator emocional conduz a uma armadilha perigosa no sagaz jogo de
poder intelectual do mestre sobre as inseguranças de uma aluna. Capaz de
culminar na inversão da alternância arrogante da opressão professoral para a vitória do elemento feminino. No desafio de um jogo de cruel desmando desmontando, de
vez, os limites racionais no entremeio de uma acusação de assédio moral
e sexual.
O potencializado comando diretor/concepcional de Gustavo Paso se reflete, especialmente, no contraponto dinâmico entre os dois atores/personagens, com a plateia transformando
seu silencio de assistente em polêmico participante do habitual debate pós-espetáculo.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
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