Surpreendeu desde sua primeira realização - Surto
(2003) - a proposta comediógrafa, com
inusitado substrato interpretativo, dos
atores Wendell Bendelack e Rodrigo Fagundes e sua Cia Os
Surtados. Pois eles estão de volta na releitura de outro de seus sucessos, O Incrível Segredo da Mulher Macaco, este
de oito anos atrás e agora titulado como Susto.
Onde, mais uma vez, se reúne a original equipe de criação para
outra energizada performance, sob a artesanal direção e autoria dramatúrgica de
Saulo Sisnando e quase que, na integralidade, mantendo a mesma equipe
tecno-artística dos outros espetáculos.
Contando ainda, além dos atores protagonistas, com o valioso
suporte de um silencioso terceiro personagem, o “gorila” ou “mulher macaco”(por
Renato Bavier), que assusta com suas interações de fisicalidade humano/símia e
seus arrojados avanços pela quarta parede.
Em saudável retomada da comédia-terror, um gênero que está
sempre à beira do estereótipo e do lugar comum, o ideário dramatúrgico de Susto faz uso inteligente de
referenciais nuances cômicas. Sabendo
dosar bem do besteirol ao novelesco/ melodramático, do burlesco circense ao terrir cinematográfico, da farsa à
comédia rasgada, sempre na vertente da melhor tradição do teatro popular.
Fazendo um mix de espontânea inventividade e irônica risibilidade
em torno de citações literárias ( Emily Brontë, Margaret Mitchell, Conan Doyle
e Agatha Christie), clichês clássicos de
melodramas e filmes de terror, além de debochados
retoques de chanchada carnavalesca, teatro de revistas e de besteirol.
Na conectividade de uma ambiencia assombrada, na concepção cenográfica (Rodrigo Fagundes,Saulo Sisnando e Wendell Bendelack) com modulações luminares (Paulo Roberto Moreira), na inserção de funcionais efeitos
sonoro-musicais (Rodrigo Fagundes e Saulo Sisnando) e nos ironizados figurinos (Marcelo Marques) de época, entre o escracho
e a fidelidade.
Concorrendo tudo, enfim, para integralizar a peculiar absurdidade
e as insanas surpresas de uma trama cômica com progressão dramática entre o riso e o
espanto, entre o assombramento e o “susto”.
Conduzida com maestria pela direção de Saulo Sisnando sabendo
explorar, sem quebra do ritmo, a opção pela verve do humor que, em sua fluente linguagem,
nunca perde os mecanismos do lúdico a partir de situações farsescas.
Com uma luminosa dupla
de atores que explora todos os contornos da alterativa troca entre seis
personagens. De exponenciais arroubos folhetinescos nos papéis assumidos em
contracena tanto por Wendell Bendelack como
por Rodrigo Fagundes.
Embora, através deste último, prevaleça o contraponto de uma representação
sustentada propositalmente em tons mais intimidados, diante do intencional exagero do primeiro ator
tornando, assim pelo contraste postural, mais
incisiva a pulsão do riso e do escárnio.
Mas, sobretudo, sintonizados ambos na mesma tarimba do satírico
e em similar grau de calibrado humor crítico. Em provocativo instante de
envolvência ator/espectador num clima de descontração e desprendimento, mais que
necessário para tempos vividos no entremeio do desalento e do “Susto”...
SUSTO está em cartaz no Teatro dos Quatro, Shopping da Gávea, terças e quartas,
às 21h. 80 minutos. Até 27 de fevereiro, com breve previsão de nova temporada.
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