FOTOS/NANA MORAES |
O dramaturgo, de origem tunisiana, Eric Assous, com diversas incursões também pela televisão e pelo
cinema, é autor de um dos maiores sucessos dos palcos franceses - Nossas
Mulheres. De 2015 e que, ainda, chegou às telas repetindo a direção teatral de Richard Berry.
Apesar do êxito de público tanto a peça e, em maior grau, o
filme, sofreram severas admoestações das entidades feministas. Por seu
enunciado de irônica risibilidade, em compasso de vaudeville e de comédia
cinematográfica, a partir de um suposto caso de feminicídio cometido por um de seus personagens masculinos - o
marido da vítima.
Numa exagerada radicalização social contra as duas versões
justificando-se na prevalência do politicamente correto. E no paralelo acirramento, tanto do machismo e da violência
doméstica, como da consequente mobilização e defesa de classe contra as
agressões ao segundo sexo.
Sabendo-se que a trama dramatúrgica assume um substrato lúdico, quase burlesco, no descompromisso ideológico e na inconsequência do mero encontro
de três homens casados no apartamento do radiologista Max (Edwin Luisi), para jogar conversa fora, bebendo e jogando cartas,
na onipresença delas.
Ele, o único oficialmente descasado, e o reumatologista Paulo (Isio Ghelman), aguardam pelo
terceiro marido - Simão (alternando, Márcio
Vitto e Edmilsson Barros). Embora este, ao chegar, surpreenda com a súbita e
inesperada confissão de que acabara de assassinar a esposa por estrangulamento.
Estabelecendo-se, a partir daí, o dilema sobre o que fazer em
relação à culpabilidade do acusado - avisar a polícia, ignorar o ocorrido ou
incentivá-lo à fuga. No entremeio das confissões intimistas de cada um deles e
de um iminente conflito ético, de fidelidade ou fissura amical, com a revelação de
fato que compromete a filha de um deles.
Onde a narrativa dramatúrgica se estende, além do necessário,
na reiterativa orbicularidade de dialetação sobre uma suspeita. Conduzindo a
trama mas incapaz de se expandir totalmente em cena com seu perceptível sustentar-se pelo previsível.
Resgatando-se, enfim, a cumplicidade palco/plateia, por obra e graça de um potencializado elenco e
por uma convicta direção (André Paes Leme), sabendo como bem imprimir desenvoltura à
representação com suas adequadas marcações.
E contando com a artesanal base dos seus elementos técnico/artísticos. Na essencialidade naturalista de ampliada arquitetura cênica (Miguel Pinto Guimarães),
na funcionalidade da indumentária cotidiana (Bruno Perlato) e na especial sinalização
luminar (Renato Machado) em inserts, no proscênio, de confessional
personificação. Embora ancorados na trivialidade banal de máximas reflexivas sobre descompassos
nas relações matrimoniais.
Com boa manipulação de recursos histriônicos e dramáticos, destaca-se
o elenco corporificando estes maridos de
inquieto comportamental psicológico. Na ausência
de suas respectivas mulheres mas, em contraponto crítico, inspirados pela distância delas.
Pontuado pelo papel provocador de Márcio Vitto que, nas episódicas
intervenções, em estado etílico, revela seus anseios extraconjugais e
imaginária auto acusação de culpabilidade criminosa.
Confrontando, de um lado, Isio Ghelman acostumado, aqui, ao convencionalismo
da ambiência doméstica e com rebeldia interna prestes a eclodir, em mais uma de
suas apuradas teatralidades.
Enquanto o personagem de Edwin Luisi, diante de uma vida
arredia na falta do afeto feminino, refugia-se na sua coleção de vinis e em rompante gestual rap, sintonizando o ator na oportuna comemoração
de quase meio século de vitoriosa carreira.
Wagner Corrêa de Araújo
NOSSAS MULHERES está em cartaz no Teatro Ipanema, de sexta a
segunda, às 20h. 80 minutos. Até 24 de setembro.
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