Num recorte , de amarga poesia, a trajetória do ser “transgênero”,no “entre lugar” a que é relegado pela postura social preconceituosa ,
representada aqui por um transexual brasileiro
– Gisberta.
A comoção nacional pelas circunstancias de sua trágica morte
na cidade do Porto, fez Portugal impulsionar novos direcionamentos contra a onda transfóbica , com atitudes de
reconhecimento jurídico pelas causas da diversidade sexual.
Simultaneamente, o tema chegou aos palcos lusitanos contando
sua estória pelo olhar materno, além de ter inspirado um documentário
austríaco. E, também, ao chegarem a hora e a vez pátrias num espetáculo/tributo teatral : Gisberta
, texto de Rafael Souza-Ribeiro, na direção de Renato Carrera e no protagonismo
de Luis Lobianco.
Onde Luís Lobianco revela, em sensorial performance solo, um estreito relacionamento com uma sofisticada trilha musical/autoral ao vivo
(Lúcio Zandonatti, piano e composições,
Danielly Sousa, flauta e Rafael Bezerra , clarineta, na organicidade de um tríduo
de acordes vocais/instrumentais).
A trama dramatúrgica misto
de narrativa/ documentário/musical,
ainda que fragmentariamente, faz um esboço biográfico desde as primeiras auto
manifestações comportamentais de descoberta da real identidade sexual de Gisberta. De um
retrato confessional e intimista do
personagem na sua lenta tortura cotidiana e no sádico assassinato, em 2006,por um bando de adolescentes de um reformatório na cidade do Porto.
Atravessando sua perigosa inicialização como travesti pelas
ruas paulistas e sua gloriosa década europeia como one woman show transformista, até a miserável decadência , como
objeto sexual, entre drogas, surtos depressivos e aids.
Numa atmosfera híbrida , entre a euforia e a comoção, o riso irônico e a dor atroz, conduzida com
raro brilho por uma convicta direção( Renato Carrera) e por uma admirável interiorização
e entrega à representação por Luís Lobianco.
No uso de um figurino solene ( Gilda Midani), quase ritualístico, com sua túnica integrada às sombreadas luzes (Renato Machado) e cinzenta ambiência
cenográfica(Mina Quental).
Mas capaz de se
transformar subitamente , entre sedas e
paetês, em incisivo manifesto crítico
aos clichês e estereótipos das postulações transfóbicas e em referencial contraposição a todas
as formas de seu deboche e marginalização.
Num enaltecimento da criação trans, no favorecimento de seu resgate social e pelo alcance de seu
valor artístico, construindo, assim, um digno personagem.Perceptível na autenticidade de uma performance capaz, entre tantas adversidades, de emotivo reflexionar e coloquialista adesão palco/plateia.
Wagner Corrêa de Araújo
GISBERTA está em cartaz no Teatro III do CCBB/Centro/RJ, de quinta a domingo, às 19h30m. 90 minutos. Até 30 de abril.
EM NOVA TEMPORADA , no Teatro Dulcina/Centro/RJ, sexta a domingo, às 19h30m. Até 02 de Julho.
EM NOVA TEMPORADA , no Teatro Dulcina/Centro/RJ, sexta a domingo, às 19h30m. Até 02 de Julho.
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