Gênero teatral de origem francesa, a revista chegou ao Brasil
em 1859 mas só se consolidou com a dupla Arthur Azevedo /Moreira Sampaio, entre
os últimos anos do império e da Primeira
República.
Caindo logo no gosto popular, através de quadros cômicos/musicais, fazendo uma retomada satírica dos
acontecimentos político/comportamentais do ano anterior.
Situada entre a comédia e o teatro musical, com um olhar
irônico, entre a malícia e a ingenuidade, com o passar do tempo, foi se
transformando numa apoteótica revista, mix
brasileiro dos ingredientes do musical americano e dos sucessos
carnavalescos.
O texto original de Ana Velloso -“Uma Revista de Ano – PoliticaMente Incorretos”, sob o comando
cênico de Sérgio Módena, usa os elementos básicos da tendência na enfatização
dos fatos e personagens que marcaram 2014.
Mas, ao mesmo tempo, adiciona novos elementos como o clima
humorístico televisivo e uma certa ambiência
de stand up comedy na proposta
sequencial narrativa.
Este aspecto privilegia o caráter episódico e singularizado
dos quadros e, de certa maneira, disfarça propositalmente, com o sotaque de
obra em construção, uma visível precariedade de recursos na ambientação cênica e figurinos (Antônio
Medeiros/Tatiana Rodrigues), com uma, felizmente, recatada iluminação (Tiago/Fernanda
Mantovani).
Carência resgatada imediatamente, a plateia, pela diversão e absorvida pelo riso
que esconde a lágrima, no enfoque
satírico de problemas sócio/político/ econômicos que afetam a cada um de
nós, neste flagrante e escandaloso
desmonte de um país.
A derrota da Copa no país do futebol, o questionamento das
eleições presidenciais, o desfalque fraudulento da Petrobrás, o desabar do
império empresarial de Eike Batista, a
risível hipocrisia do ortodoxo moralismo
religioso diante da postura gay,
e por aí vai.
A direção concentra seu esforço criativo num elenco de
inequívoca atuação musical e de equilibrada performance textual (Ana Velloso, Cristiana Pompeo, Cristiano
Gualda, Édio Nunes, Hugo Kerth). Além de
Wladimir Pinheiro, dublê de diretor musical, imprimindo excepcional dinamismo
ao score sonoro.
A montagem, com seu inteligente retrato deformativo da
realidade brasileira, promove, enfim,
uma reflexiva postura através do riso usado como a mais útil e acessível
forma de crítica.
WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO
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