No pensamento freudiano, o impulso energético interno que
direciona o comportamento do individuo, está dividido entre “ Eros, a pulsão
para a vida , e Tanatos, a pulsão para a morte”. Num contínuo fluxo de
"atração e repulsa da matéria, delimitado entre o anímico e o
físico".
Mas foi se aproximando do reflexivo conceito de Nise da
Silveira, de que a loucura é ligada ao desamor, que Dib Carneiro Neto escreveu
o inspirado texto dramatúrgico “Pulsões”.
Em incisiva mimetização do impulso amoroso na fronteira da
alienação, num mix de linguagens artísticas ( teatro/dança/música), uma
bailarina( Fernanda de Freitas) e um maestro (Cadu Fávero) protagonizam uma
poética teatralização. De afeição e rejeição, passado e futuro, vida e
morte, com o superlativo comando de Kika Freire.
A narrativa fragmentária é estabelecida num jogo onírico de
lembranças e delírios, confissão e culpa, na metafórica cena sem espaço e
tempo. Que, em meio a conflitos e tormentos, exprime o descompromisso
prazeroso da verdade, exclusivo dos loucos.
Numa arquitetura cenográfica (Teca Fichinski) entre
esculturas, mandalas e móbiles, com singular esteticismo esotérico, a recatada
luz entre sombras (Fran Barros). Ao lado da envolvente trilha sonora ao vivo (Marco França), com esmerada interpretação de João Bittencourt (piano) e Maria
Clara Valle (violoncelo).
Enquanto os dois atores, em dinâmica sintonia expressiva,
alternam uma solitária contemplação e sofrida gestualização. Contrapondo
palavras, acordes musicais e frases coreográficas, de surpreendente escritura
cênica.
Imersos neste labiríntico universo de culpas interiores,
atores e público descobrem, enfim, sua catarse no ato positivo do enfrentamento
comum das temidas “Pulsões, somáticas e psíquicas, da condição humana.
WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO
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