Para o sociólogo Max Weber, “burocracia e burocratização são
processos inexoráveis ou seja inevitáveis e crescentes, presentes em qualquer
tipo de organização, seja pública ou privada”. Ainda que a rigidez
administrativa e o exagero de regulamentos tornem-se , na maioria das vezes,
inadequados e quase ilegítimos na sua opressividade.
Palavras que podem ser um referencial para a conceituação e
apreensão do surpreendente fluxo progressivo que esta forma de dominação social
legitimada exerce no desenvolvimento da trama dramatúrgica de “Mantenha Fora do
Alcance do Bebê”.
O texto, o segundo de um promissor talento da nova geração
de autores do teatro brasileiro, faz de Silvia Gomez uma expoente das vertentes
do surrealismo e da absurdidade.
Quando ,através de uma proposta temática, aparentemente ingênua, contida na singularidade da própria expressão popular que titula a peça,
mostra uma mulher (Débora Falabella) diante de uma assistente social (Anapaula
Csernik) postulando um bebê.Nada poderia ser mais cotidianamente trivial.
O que não se espera jamais é como o mero preenchimento de um
questionário, para atender aos requisitos técnicos /administrativos de uma
instituição assistencial, será capaz de provocar um estado de pânico total, nos
planos físico e psicológico.
Numa situação insustentável de pressionamento da própria
liberdade de escolha da entrevistada, escondida na mediocridade postural de uma
inquisidora “burocrata”, a legalidade do procedimento conduz a uma caótica
exposição de corações e mentes desequilibrados, entre a humanização e a animalização.
Neste ultimo aspecto, com a estranha, mas significante
presença , de um funcionário literalmente travestido de lobo (Diego Darc).E que
acaba levando à convocação emergencial de Rubens (Jorge Emil),marido da
proponente à adoção filial, e único personagem nominalizado na narrativa
cênica.
Completando-se, assim, a enérgica sintonização de
performances, na ignara mordacidade moral de Anapaula Csernik, na superlativa
imprevisibilidade comportamental de Débora Falabella, na instabilidade
emocional de Jorge Emil e na irônica reticência de Diego Dac. Com adequados
figurinos(Rosangela Ribeiro) , ambiental iluminação(Aline Santini) e precisas
interferências sonoras(L.P.Daniel).
Nesta delirante arquitetura cênica habilmente conduzida por
Eric Lenate , dublê de cenógrafo( numa contrastante estética "clean")
, há uma exponencial exploração da verbalização insana e de uma delinquente
corporificação à beira de um atentado terrorista.
Transmutando esta sombria atmosfera a la Thomas Hobbes de
homens que são lobos dos homens, a possibilidade da saída pela filosofia hippie
de Hair ( I Got Life) no coreográfico e libertário epílogo:
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