O MÉTODO GRÖNHOLM : UM BURLESCO E SARCÁSTICO PROCESSO DE SELEÇÃO AO MUNDO CORPORATIVO


O Método Grönholm. De Jordi Galcerán Ferrer. Direção/Lázaro Ramos. Janeiro/2023. Fotos/João Caldas.


O catalão Jordi Galcerán Ferrer, em sua peça titulada O Método Grönholm, com ferino espírito crítico aborda dramaturgicamente, no entremeio de mordaz humor  e  burlesco enfoque,  a cruel competitividade que sustenta o recrutamento de candidatos ao status corporativo de uma empresa multinacional.

Desde sua estréia, em 2003, tornando-se um êxito mundial, com inúmeras versões para o palco, inspirando séries televisivas, além do premiado filme hispânico El Metodo, de Marcelo Piñeyro (já exibido no Brasil, em 2005, com a nominação de O que Você Faria?).

Tendo já chegado aos nossos teatros, com direção de Luiz Antonio Pilar, em 2007, num elenco integrado por Angelo Paes Leme, Edmilson Barros, Taís Araujo mais Lázaro Ramos que, agora, troca seu papel de ator com o de diretor na segunda montagem da peça de Jordi Galcerán.

Desta vez, após uma estreia carioca interrompida pela eclosão do surto pandêmico em março de 2020, e logo após sua retomada paulista dois anos depois, chegando ao Rio como um dos espetáculos de abertura da múltipla Temporada Teatral 2023.

Onde Lázaro Ramos, contando com o suporte valioso da co-direção de Tatiana Tibúrcio, reune um potencial e afinado quarteto de atores,  a saber - Anna Sophia Folch, George Sauma, Luís Lobianco e Raphael Logam. Todos eles, como personagens, se encontrando para o enfrentamento de um teste interesseiro e de desrespeito quase sub humano, sem a presença física de qualquer interlocutor.


O Método Grönholm. Com Anna Sophia Folch, Luís Lobianco, Raphael Logam, George Sauma. Janeiro/2023.Fotos/João Caldas.
 

Enquanto a ambiência cenográfica (Mauro Vicente Ferreira) na sala de uma empresa é centralizada por uma mesa, um pequeno armário lateral e o sugestionamento de janelas mostrando outros escritórios de uma área urbana comercial. Caracterizados os atores com uma indumentária cotidiana (Teresa Nabuco) mais formalista e própria de executivos, sob luzes vazadas (Ana Luiza Molinari de Simoni) sem maiores direcionamentos focais.

Em que a sonoridade é preenchida apenas pelas interferências vocais dos atores, com ocasionais ruídos luminosos de frios alertas instrucionais, via envelopes destinados aos concorrentes. Numa sequencialidade alterativa de confrontos e afirmações personalistas de cada um deles, em crescente e nervosa pulsão psicofísica.

Que vai configurando os diferenciais perfis psicológicos, ora de extremado cinismo ora de provocantes e risíveis gestos comportamentais, ao falarem sobre particularidades do dia-a-dia. Como se quisessem auto enfatizar a prevalência egocêntrica de suas qualidades sobre as dos outros, convictos de sua escolha pessoal para a única vaga disponível.

Num clima permanente de intrigas e de acusações recíprocas, ao lado de inusitadas revelações de fatos intimistas da vida privada dos concorrentes, estabelece-se um elo de envolvência lúdica com a plateia, sob energizada e bem humorada performance atoral.

Na sempre segura direção concepcional de Lázaro Ramos, em clima cênico de uma comédia quase thriller, que conecta suspense à expectativa do curioso entorno do que vai se dar ou até onde tudo isto pode chegar.

O que remete, como proposta de uma narrativa cênica, ao termo inglês Whodunit, no seu simbólico uso para tramas novelescas e policiais, em transcendente processo metafórico sob compasso do desafio de um enigma a ser decifrado, com inimaginável surpresa do final.

Se, aqui, no ficcional Método Grönholm, o suspense é capaz de alimentar a comédia, também deve fazer refletir sobre o pesadelo da carência ética, quando a competitividade humana despreza tudo e todos para armar sua sórdida disputa por um lugar ao sol...

 

                                          Wagner Corrêa de Araújo



O Método Grönholm está em cartaz no Teatro Copacabana Palace, sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h. Até 5 de fevereiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

👏🏽👏🏽👏🏽 Abraço Joao Vitor

Anônimo disse...

Cristina Avila - peça magnífica, de um simbolismo icônico desses tempos do mundo corporativo. Texto de Wagner Correa de Araujo, um mestre no conhecimento e crítica teatral. Dá vontade de ver essa montagem.

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