FOTOS/JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS |
Aproximando-se de seu quase meio século, o Grupo Corpo está de volta, agora com Gil, outra incursão sob o signo da afro brasilidade, em tributo coreográfico a uma personalidade musical. Precedido pela remontagem de Sete ou Oito Peças Para Um Ballet, de 1994, com dúplice base musical (Philip Glass/Uakti).
Desta vez, na completude inventiva de um trabalho composicional inédito do próprio homenageado - Gilberto Gil - com o valioso apoio artístico de Bem e Flora Gil, a partir de uma particularizada releitura de seu legado musical.
Com um ideário investigativo que não se atém à linearidade e ao imediatismo das facilidades melódicas identificativas de seus grandes sucessos mas, antes de tudo, misturando referencias e estilos reprocessados com o olhar armado na contemporaneidade.
Onde, como num jogo de adivinhação, o espectador/ouvinte apenas percebe sutis lembranças e passagens episódicas de seus temas mais populares, no formato de riff ou recorrendo ao refrão. Que podem ir de Aquele Abraço ao Sítio do Picapau Amarelo, entre muitos outros, como Tempo Rei, Andar com Fé, Raça Humana.
Onde, como num jogo de adivinhação, o espectador/ouvinte apenas percebe sutis lembranças e passagens episódicas de seus temas mais populares, no formato de riff ou recorrendo ao refrão. Que podem ir de Aquele Abraço ao Sítio do Picapau Amarelo, entre muitos outros, como Tempo Rei, Andar com Fé, Raça Humana.
Revisitados com substrato estético de rapsódia sob tema e variações, num mix sonoro de ritmos afro-brasileiros, fraseados clássicos,
jazzísticos e roqueiros. Aliando sonoridades erudito-eletrônicas com proposital
convergência para um grande painel social dançante.
Que vai da celebração ritual de Xangô (o orixá do compositor no Candomblé) às pontuações de samba, assumidas especialmente em contagiante solo feminino com modulações carnavalesco/passistas, além das ritmicas interveniências percussivas (rock/soul/funk).
Que vai da celebração ritual de Xangô (o orixá do compositor no Candomblé) às pontuações de samba, assumidas especialmente em contagiante solo feminino com modulações carnavalesco/passistas, além das ritmicas interveniências percussivas (rock/soul/funk).
Possibilitando um coeso encontro entre a palavra cantada, a música e o gesto, em envolvente fisicalidade sensorial/emotiva (Rodrigo
Pederneiras) direcionada a um minimalista mas empático paisagismo cênico (Paulo
Pederneiras),com abstrata plasticidade que favorece, sobremaneira, o clima da representação.
Ampliado no grafismo aquarelado dos figurinos (Freusa Zechmeister)
extravasando bom gosto e que transmutam, ainda, a corporeidade dos bailarinos como potencial elemento cenográfico. Sob irradiantes efeitos luminares (na parceria Paulo e Gabriel Pederneiras), aqui mais solenizados, no entremeio de
sombreamentos, em contraponto à explosão tonal de cores da primeira parte do espetáculo
Contando com a energizada performance de seus bailarinos,
marca registrada da sólida trajetória do Grupo
Corpo, Rodrigo Pederneiras dá vazão
ao livre funcionamento de suas atitudes inventivas em outro espetáculo
revelador da série dedicada e titulada em torno da reverência a grandes compositores. Sem delimitações de gênero ou época, configurando um rico
inventário coreográfico dentro desta linhagem criadora.
Imprimindo sempre espontaneidade gestual e força interior a
concepções coreográficas que vem resistindo ao longo dos anos sob uma
assinatura original, simbolizada pela inicialização do movimento no quadril,
dando partida a um gestualismo diferencial que se estende dos pés à cabeça.
Especificamente, no caso deste Gil, sob variado enfoque a partir da
imaginária ritualística do candomblé em reiterativos batimentos de mãos e braços no peitoral e nos ombros. Num conceitual de configuração do impulso fisíco voltado ao
chão, à solaridade, ao terreiro, em
nítido contraste com os avanços espaciais da primeira peça, dando relevo a
solos grupais no lugar dos duos, presenciais na performance precedente.
É afinal, outra vez, o Corpo
numa gramática coreográfica em processo de resistência cultural, dando aquele abraço, com predestinação de
surpresa e de claridade artística, para
tempos obscuros.
Wagner Corrêa de Araújo
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