FOTOS / OLIVIER SAMSON-ARCAND /THIERRY DU BOIS |
Poeta, escritor e compositor, o canadense Leonard Cohen
tornou-se, a partir dos anos 70, um símbolo de sua cidade, o que levou a
conhecida cia. local - Ballets Jazz Montréal – a prestar um dúplice tributo ao seu nome e à sua
natalidade.
Dance>Me, pensado ainda em vida de Cohen,
acabou estreando em 2017, um ano após a sua morte, e sob a titularidade
abreviada de uma de suas mais enaltecidas composições - Dance Me To The End of Love.
Numa proposta dramatúrgico-diretora (Louis Robitaille) em que
não há uma assinatura individual de partes da obra mas um embate criativo
coletivo, reunindo quinze canções, em ordem cronológica, e um poema, além de
citações literárias (audiovisuais) de Leonard Cohen.
Numa parceria criativa de três conhecidos nomes da mais recente
geração coreográfica da dança contemporânea - Annabelle Lopez Ochoa, Ihsan
Rustem e Andonis Foniadakis (este já conhecido por aqui,
em tournée 2015, do Ballet du Grand
Thèâtre de Genève).
Prejudicado apenas por seu exclusivo direcionamento a uma frenética
e reiterativa gestualidade, de caracteres supra energizados, com pouco espaço para variações
modulares mais sutis, em sua progressão atlético/dançante ininterrupta. Com assumido apelo a uma fisicalidade erotizada
nas junções corpóreas e nas indicações fetichistas dos bastões de pole dance.
Onde a prevalência de uma rigorosa pulsão de movimentos impetuosos
para dançar as palavras e os acordes de um compositor-poeta, mestre na
tematização de amores e partidas, no entremeio de sensualidade, melancolizações
e morte, é quebrada somente por episódicas pausas poéticas de reflexão e lirismo.
Presenciais no pas-de-deux
(para a canção Suzanne) em emotiva performance
com destaque protagonista para Céline Cassone. De belo alcance também na
transposição de So Long, Marianne,
representação que inclui a simbolização imagística de Cohen despedindo-se de
sua eterna musa (Marianne Ihlen). Ele retorna, vez por outra, atravessando o palco, sugestionado por um bailarino em fraque e cartola
E recorrente ainda em outros momentos icônicos de sua
trajetória artística como Hallelujah,
aqui num live mix de gesto, palavra e
canto. Além de curioso referencial às velhas máquinas datilográficas em Tower of Song, potencializado em
projecionismo visual de frontalidade cênica mostrando bailarinos soltos no
espaço, sob camera lenta.
Aliás, o desenho luminar (Cédric Delorme-Bouchard) é um dos pontos altos da performance
num palco vazio ladeado por refletores à vista, com telões móveis que sobem e
descem possibilitando belos efeitos de luz e sombras. Enquanto os figurinos (Philippe Duboc) alternam a solenidade de ternos e chapéus
com o peitoral nu dos bailarinos e trajes intimistas no naipe feminino.
Em espetáculo coreográfico que tanto pode desagradar aos mais radicais asseclas do predomínio lírico/composicional em Leonard Cohen como, ao
mesmo tempo, alcançar a imediata cumplicidade palco/plateia,
pela alta qualidade técnica da performance e pela fácil envolvência de seus extasiantes ritmos e
acordes melódicos.
Wagner Corrêa de Araújo
Dance>Me – Ballets Jazz Montréal, em tour por Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro (Theatro Municipal). 80 minutos. Até 08 de setembro.
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