FOTOS/MANOELA HASHIMOTO |
Com seu referencial entre o teatro de bastidores e o metateatro de Pirandello, “(nome do espetáculo)”, na dupla autoria dos americanos Jeff
Bowen(música) e Hunter Bell(libreto), surpreendeu o público e a critica com
a originalidade, a despretensão funcional e a pulsão inventiva que, enfim, eles imprimiram a
este metamusical, ironizado desde sua inteligente ausência de titulação.
Pensado, tematicamente, como um “espetáculo”
que está sendo concebido, em cena e em tempo
real, para ser um “espetáculo”, sua
primeira temporada aconteceu no circuito off Broadway. Afinal ele
tinha, ironicamente, todos os anti/ingredientes
de uma grande produção musical.
Quatro personagens, quatro cadeiras com formatos e cores
diversas, luzes vazadas e meramente ambientais, a cenografia minimalista de um gabinete/escritório,
figurinos cotidianos e um tecladista solo, responsabilizando-se pela execução,
ao vivo, do score sonoro.
E a textualidade original, singularizada pelo construtivismo criador
de uma ideia, a ser desenvolvida como
uma concepção dramatúrgica destinada a concorrer a um festival de teatro/musical.
Onde tudo tem uma base verista na reunião de uma equipe de
sete integrantes(quatro atores, a dupla autoral e um músico) que se
apresentaram, enfim, estreando em 2004, no New
York Musical Theater Festival.
Possibilitando, no seu processo de elaboração dialética, o
desafio teórico e a discussão cotidiana, como um tríptico autoral/atoral/vocal,
de prevalente tom humorado , no contraponto crítico/performático/musical entre seus quatro intérpretes/mentores.
A esmerada versão alcançada pelo esforço coletivo da tradução
de Luísa Viana, da contribuição de seu quarteto idealizador, fez-se com a mesma nominação dos personagens originais - Jeff(Caio Scott),Hunter(Junio Duarte) e Susan(Carol
Berres).Tendo ainda, nesta arquitetura estetizante, o precioso olhar armado diretorial de Tauã Delmiro.
Sem esquecer da participação da quarta personagem
Heidi(Ingrid Klug) e do pianista e diretor musical Gustavo Tibi, dando um show de
competência instrumental e de artesania, tanto nos arranjos do repertorio composicional como no acompanhamento solista do quator vocal.
Concorrendo ainda para o aprimoramento da empreitada , a previsibilidade funcional da solução cenográfica (Cris de
Lamare), a praticidade da indumentária dia-a-dia (Tauã Delmiro) e a singularidade
intervencionista do desenho de luz(Paulo Cesar Medeiros).
O desempenho dos atores tem seu destaque na sintonização deles no embate proposital, em clima de espontaneidade , improvisação e ensaio, nas falas e nas letras das canções
sobre a exploração dos bastidores de um
musical.
Com boas caracterizações da dupla masculina nas dialetações sobre as exigências(Junio Duarte) ou as concessões( Caio Scot) do gênero.As inquietações corriqueiras na envolvente
verve cômica de Ingrid Klug ou o
revelador alcance de voz e gestualidade de Carol Berres.
E materializado na ágil marcação das situações temporais da
trama substituindo as referencias originais por observações locais, risíveis e certeiras, sobre a problemática da contemporaneidade
artística carioca.
O que possibilita , assim, brincar reflexivamente , com as
afetações e os recalques que estão por trás da produção, da crítica e da cumplicidade do
público neste “nome do espetáculo” metaforizado como teatro musical.
Wagner Corrêa de Araújo
"(nome do espetáculo)" está em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, Cinelândia, sexta a domingo, às 19h.90 minutos. Até 4 de fevereiro.
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